O governo da Jamaica, com o apoio dos Estados Unidos, está procurando identificar criminosos que orquestram crimes no país apesar de residirem no exterior. O primeiro ministro jamaicano, Andrew Holness, fez o anúncio em dezembro de 2022, afirmando que o considerava um elemento-chave em sua estratégia para combater o crime e a violência que assolam a ilha, informou a revista Caribbean National Weekly.
“É fácil pensar que você pode ter 1.000 mortes que acontecem por razões locais, por eventos que foram na direção errada, ajustes de contas entre gangues locais, ataques a pessoas que não estão pagando pela proteção etc.”, disse à Diálogo Enrique Desmond Arias, professor e especialista em ciências políticas da Escola Marxe de Relações Públicas e Internacionais Baruch College, de Nova York, em 7 de janeiro. “Eu ficaria surpreso, com tudo o que aconteceu nos últimos 40 anos, se não houvesse alguns homicídios acontecendo na Jamaica ordenados por membros de gangues que vivem nos EUA.”
As autoridades da Jamaica já forneceram às agências de aplicação da lei dos EUA os nomes de pessoas que vivem no território norte-americano e que apoiam ou patrocinam atividades criminosas na ilha.
“Fornecemos às agências e entidades uma lista de nomes que rastreamos e sobre os quais temos inteligência. As entidades norte-americanas estão fazendo seu trabalho”, explicou Holness na rádio Nationwide News Network da Jamaica. “Não podemos dizer muito, mas os resultados de nossos esforços serão vistos muito em breve. Precisamos usar essas parcerias para interceptar os criminosos no exterior.”
O governo jamaicano se reuniu com o Departamento de Justiça e o FBI dos EUA, ocasião em que abordaram a crescente ameaça de quadrilhas criminosas transnacionais, a violência criminosa organizada e o tráfico de armas ilegais para a ilha, declarou Holness no final de dezembro. Além disso, revisaram programas e parcerias existentes, identificaram lacunas e exploraram novas oportunidades para avançar na cooperação entre ambas as nações, compartilhando informações de forma mais rápida, noticiou o jornal Jamaica Observer em dezembro.
Diante da escalada da violência no país, o governo decretou um novo estado de emergência, em 28 de dezembro, nos distritos de St. Ann, Clarendon, Kingston, St. Andrew, St. Catherine, St. James, Westmoreland e Hanover, publicou Holness no Twitter.
O crime em ascensão
“Os estados de emergência pública provam mais uma vez que são a maneira mais rápida e eficaz de reduzir crimes violentos”, detalhou à imprensa o General de Brigada Antony Anderson, comissário de polícia da Força de Polícia da Jamaica. “Durante o primeiro período do estado de emergência, declarado em novembro [de 2022], os assassinatos foram reduzidos em 64 por cento; eles aumentaram em 171 por cento quando os poderes de emergência foram retirados.”
A medida foi tomada depois que o país registrou 1.498 homicídios de 1° de janeiro a 31 de dezembro de 2022, superando os 1.474 assassinatos ocorridos em 2021, informou o jornal jamaicano The Gleaner.
“Os níveis de ameaça de conflitos entre gangues, assassinatos por contrato e roubos de lojas permanecem elevados e generalizados”, lamentou Holness à cadeia alemã DW.
Ajuda de parceiros
A Jamaica é a maior fonte de maconha ilegal no Caribe destinada aos Estados Unidos e às ilhas locais do Caribe, bem como um ponto de trânsito para a cocaína com destino à América do Norte e Europa, publicou o Departamento de Estado dos EUA em dezembro.
“Creio que Holness quer que seu povo entenda que os problemas da Jamaica não são apenas da Jamaica […], que eles vêm de uma relação transnacional, do papel que o país desempenha no tráfico internacional de drogas […], enfatizou Arias. “Também acho que Holness provavelmente reconhece que os Estados Unidos também podem ajudar a Jamaica, fazendo coisas a partir do seu país.”
Por enquanto, para combater estas ameaças, o Escritório Internacional de Assistência contra Narcóticos e Aplicação da Lei dos EUA tem prestado assistência desde 2016, no âmbito da Iniciativa de Segurança da Bacia do Caribe, para profissionalizar e melhorar a capacidade de combate aos narcóticos da Força de Polícia da Jamaica, bem como fortalecer a justiça criminal jamaicana.