A Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) anunciou que, no âmbito da Operação Arcadia, as forças de segurança da América Latina e do Caribe recuperaram mais de 80 carregamentos de madeira ilegal em abril, como resultado do monitoramento e cooperação internacional.
“Quando falamos da Operação Arcadia, não estamos falando apenas de coisas tangíveis, como capturas, apreensões de madeira, desmantelamento de estruturas, mas […] do modus operandi que identificamos e damos a conhecer através da Interpol aos 195 países membros”, disse à Diálogo o Major Leonardo Correa, da Polícia Nacional da Colômbia, subchefe da Seção de Investigação Criminal da Diretoria de Carabineiros e Proteção Ambiental, em 19 de maio de 2022.
Os mais de 1.200 metros cúbicos de madeira ilegal recuperados das florestas do hemisfério “mobilizaram as autoridades policiais, aduaneiras e florestais de 12 países da região, para descobrir e desmantelar o tráfico ilegal de madeira e crimes relacionados”, afirmou o comunicado da Interpol.
Durante o mês que durou a operação, 69 pessoas foram presas e foram registrados 287 incidentes relacionados ao corte ilegal. As autoridades trabalharam em áreas prioritárias, baseando-se na inteligência, identificando e neutralizando grupos do crime organizado envolvidos no tráfico de madeira, disse a Interpol.
Florestas latino-americanas
A América Latina e o Caribe abrigam um terço das florestas tropicais do mundo, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Entre 2015 e 2020, a América do Sul perdeu quase 3 milhões de hectares de florestas por ano, o segundo total mais alto para qualquer região do mundo, disse o BID.
As florestas da América Latina estão sendo desmatadas a um ritmo acelerado. Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru estão entre as nações com maior perda de hectares de floresta, segundo a InSight Crime, uma organização internacional dedicada a investigar o crime organizado na América Latina e no Caribe. O Panamá tem registrado uma “quantidade alarmante” de apreensões de madeiras durante anos, a maior parte destinada à China, declarou.
A Interpol estima que o comércio ilegal de madeira movimenta anualmente cerca de US$ 152 bilhões, representando quase a metade dos lucros ilegais dos delitos contra o meio ambiente, que são a terceira forma mais frequente de crime organizado transnacional no planeta, afirmou.
Redes complexas
Uma das razões pelas quais grupos do crime organizado se dedicam mais ativamente ao corte e tráfico de madeira ilegal é “a dificuldade operacional das operações de heliporto e fluviais para alcançar e proteger as áreas de difícil acesso nas zonas remotas de selva”, disse o Maj Correa.
A alta demanda global por madeira aumenta o risco de que os grupos criminosos se dediquem mais a essa atividade ilegal e utilizem as margens de lucro para financiar outras atividades ilícitas, disse a Interpol. A demanda também leva a um aumento de crimes relacionados, tais como fraude, lavagem de dinheiro e corrupção.
“Os atuais traficantes de madeira utilizam sistemas logísticos e financeiros modernos que não estão limitados a um país ou a uma região”, informou Cindy Buckley, subdiretora de Mercados Ilícitos da Interpol. “As redes são tão complexas que as forças de aplicação da lei só podem agir contra elas através dos esforços combinados de diferentes agências ao longo da cadeia de fornecimento e em escala internacional.”
O caso da Colômbia
Nesse sentido, “com os Estados Unidos, temos […] colaborações intensas, fortes […] e fundamentais para o trabalho que fazemos”, disse o Maj Correa. “Uma das colaborações é com o Serviço de Pesca e Vida Silvestre [FWS] dos EUA”, para conservar habitats, espécies prioritárias e processos ecológicos em lugares de alto valor em termos de biodiversidade.
“A parceria com o FWS está voltada à assistência financeira para fornecer às forças de segurança alguns elementos, bem como capacitar os funcionários em questões ambientais e de intercâmbio de informações com as autoridades norte-americanas”, acrescentou.
Além disso, o Pacto Intersetores para a Madeira Legal na Colômbia procura continuar com o desenvolvimento de um mercado sustentável de madeira legal no país até 2030, a fim de enfrentar o tráfico ilegal de madeira. Essa é uma das iniciativas de governança florestal mais reconhecida na América Latina, de acordo com a organização de conservação mundial Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
O que se segue
Para impedir que as organizações criminosas continuem a retirar madeira de áreas proibidas, “o que está por vir nos próximos meses são as operações binacionais a nível regional de forma coordenada”, disse o Maj Correa. “No próximo mês [junho], temos uma reunião com o Brasil e o Peru para iniciar o planejamento das operações, com os quais temos a maior aliança e problemas ambientais, uma vez que compartilhamos esse pulmão, que é a Amazônia.”
No entanto, “não faremos nada para combater o crime se não tivermos uma educação fortalecida sobre questões ambientais para nossas crianças e adolescentes”. Esta será nossa defesa de nosso capital natural no futuro”, concluiu o Maj Correa.