Centenas de cidadãos peruanos protestaram na frente das instalações da empresa de capital chinês Cosco Shipping Ports, em Chancay, Peru, no dia 18 de fevereiro de 2022, “devido às constantes explosões realizadas para modificar a baía”, com o objetivo de criar um megaporto na cidade, informou em seu portal a CooperAcción, uma ONG peruana que promove os direitos sociais e ambientais.
A Cosco prometeu realizar detonações controladas no projeto Terminal Portuário Multipropósito de Chancay, mas a cada dia as cargas de explosivos são maiores, disse a CooperAcción. No dia 16 de fevereiro, as intensas detonações deixaram os habitantes inquietos, forçando-os a abandonar suas casas que mostravam fissuras causadas pelas explosões.
“A casa dos Mamani Flores apresenta danos cada vez mais graves, como o rompimento de uma tubulação de água que inundou toda a sua residência. Os Mamani vivem a quase 100 metros da Cosco Shipping Ports Chancay Peru”, publicou a plataforma digital de jornalismo de investigação Diálogo Chino.
O Comitê de Vigilância Ambiental do Pântano Santa Rosa Chancay mostra em um vídeo no Facebook como a construção do novo porto, localizado a 80 quilômetros de Lima, afeta a flora e a fauna da zona protegida. “A população de aves diminuiu. Já não [chegam] as garças que vinham a esse pantanal, que era um lugar atraente para as aves migratórias que transitavam por diversas nações do mundo”, informou.
Miriam Arce, presidente da Associação em Defesa das Casas e Meio-Ambiente do Porto Chancay, publicou também no Facebook um vídeo denunciando a mortandade de caranguejos e ouriços nas praias do porto, “devido às constantes dragagens e à construção de espigões pela Cosco, no lado de Punta e Cascajo”.
Por outro lado, a ONG ambientalista peruana Mundo Azul informa que enviou à empresa chinesa 50 observações sobre o impacto ambiental do projeto. “Faltam ainda 29 observações que não consideramos respondidas, porque a Cosco se nega a reconhecer o impacto ambiental gerado, não fornece as informações requeridas para avaliar o impacto, utiliza conceitos científicos errôneos e nega sua responsabilidade, atribuindo-a a terceiros.”
Além disso, continua negando o impacto na saúde da população, devido às emissões geradas; continua minimizando o efeito das atividades de dragagem e da descarga de sedimentos; e continua omitindo a análise da emissão de poeira tóxica no meio-ambiente, acrescenta.
As obras avançam
Como parte do megaprojeto, a Cosco perfura um túnel que tinha, até o dia 28 de fevereiro, um avanço de 30 metros. “O comprimento da via será de 1,8 km e fará parte de um corredor viário segregado e exclusivo para a carga relacionada às operações portuárias”, publicou o jornal oficial El Peruano.
Espera-se que o primeiro cais do porto esteja pronto no final do primeiro semestre de 2023, e o plano para o término de toda a infraestrutura se mantém para o segundo semestre de 2024, com uma capacidade anual de carga geral de 6 milhões de toneladas, informa o portal Seatrade Maritime News.
Segundo a Diálogo Chino, o megaporto de Chancay busca tornar-se um eixo do comércio entre a Ásia e a América do Sul. Empresas chinesas já controlam mais de 10 portos em sete países latino-americanos e estão “pisando forte no de Chancay”, acrescentou o portal argentino de notícias Nexofin.
“Teremos que ir embora”
De acordo com informação do Ministério de Transportes e Comunicações do Peru, o investimento do projeto em sua concepção final será de mais de US$ 3,6 bilhões.
“O problema é a localização do projeto. Será um grande investimento, mas quanto vamos perder? Talvez em algum momento tenhamos que ir embora, porque não poderemos mais viver aqui”, concluiu Arce.