Um relatório da organização internacional Human Rights Watch (HRW) acusa as forças de segurança da Venezuela de realizar operações com o grupo guerrilheiro colombiano Exército de Libertação Nacional (ELN) e de provocar “um aumento dramático da violência nos primeiros meses de 2022”, nos departamentos fronteiriços de Arauca, na Colômbia, e Apure, na Venezuela. O relatório Colômbia/Venezuela: Abusos de grupos armados na área de fronteira foi publicado em 28 de março.
Segundo a investigação, a aliança entre a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) e a Guarda Nacional Bolivariana com o ELN, em sua ofensiva contra os dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), provocou um aumento dos homicídios, desaparecimentos, recrutamento de menores e deslocamento forçado.

O relatório se baseia em testemunhos de pessoas deslocadas pela violência, líderes comunitários, indígenas, funcionários judiciais, autoridades locais colombianas, representantes de organizações de direitos humanos e refugiados de Apure, que presenciaram como militares venezuelanos entravam em aldeias com guerrilheiros do ELN e sequestravam pessoas.
Uma testemunha disse à HRW que membros da FANB chegaram à sua comunidade em Apure com guerrilheiros do ELN, que levaram à força várias pessoas acusadas de colaborar com o Comando Conjunto do Leste, formado por dissidentes das FARC. “Os membros [da FANB] chegaram junto com os do ELN; eu pensei que eles iam nos matar a todos. Eles começaram a gritar nomes, entraram nas casas dessas pessoas e as levaram amarradas.”
Em outro caso, “dois homens armados mataram a tiros Álvaro Peña Barragán, enquanto ele trabalhava em uma fazenda em Tame, Arauca. No dia seguinte, dois outros homens mataram sua esposa Rosalba Carmenza Tarazona Ortega”, durante o funeral de Álvaro, disse uma testemunha. As evidências indicam que membros do Comando Conjunto do Leste mataram os dois, acusados de cooperar com o ELN, de acordo com a HRW.
A Polícia Nacional da Colômbia confirmou a morte de 103 pessoas em Arauca, entre janeiro e fevereiro de 2022, o maior número de assassinatos desde 2010.
“Muitas pessoas podem não ter ouvido falar [da região do rio] de Arauca, mas é o epicentro atual da Rússia e do esforço da Venezuela para desestabilizar o hemisfério ocidental”, escreveu no Twitter Joseph M. Humire, diretor do Centro para uma Sociedade Livre e Segura, dos Estados Unidos, em 19 de janeiro.
“Sabemos que alguns homens e unidades da força militar bolivariana também foram mobilizados para a fronteira, com o apoio e a assistência técnica da Rússia e com o apoio e assistência técnica do Irã, lá do outro lado da fronteira”, acrescentou o ministro da Defesa colombiano, Diego Molano.
Em duas semanas, pelo menos 5.000 pessoas (quase metade delas crianças) cruzaram o município colombiano de Arauquita, após a intensificação do conflito entre o Exército venezuelano e um grupo dissidente das FARC, informou a BBC Mundo, em 6 de abril. “Houve bombardeios, casas foram invadidas e pessoas deslocadas denunciam execuções extrajudiciais”, ressaltou.
Arranjos tácitos
Jorge Mantilla, especialista em fronteira e segurança da Universidade de Illinois, acrescentou à BBC Mundo que “as guerrilhas colombianas, os grupos armados e as autoridades venezuelanas” conseguiram manter a paz graças “a acordos, às vezes tácitos, de compartilhamento de rendimentos e controle territorial”.
Segundo Mantilla, essa paz foi alterada pela dissidência das FARC. “Agora foi produzida uma tensão entre os arranjos locais que [as dissidência das FARC] podem ter com os componentes regionais do Exército venezuelano e os arranjos que […] Caracas pode ter com a Segunda Marquetalia, outra dissidência.”
As autoridades colombianas tentaram reduzir as ações dos grupos armados em Arauca, enviando mais tropas do Exército, em um esforço para parar o derramamento de sangue, relatou Voice of America online.
“Só será possível combater efetivamente a insegurança através da utilização integrada das capacidades do Estado [da Colômbia] para defender os direitos dos cidadãos […] e dar maior ênfase ao desmantelamento dos grupos armados ilegais e das organizações criminosas”, disse a Organização das Nações Unidas, em 28 de março.