O General-de-Brigada do Exército Julio César Paz Bone, chefe do Estado-Maior da Defesa Nacional da Guatemala, tem uma meta muito específica: colaborar com as nações parceiras da região centro-americana, bem como com o México e os Estados Unidos, para derrotar as organizações transnacionais criminosas. As forças-tarefa interinstitucionais, os comandos de elite, os patrulhamentos de fronteira e as informações compartilhadas em tempo real são algumas das estratégias que a Guatemala aporta para a luta contra a criminalidade regional.
O Gen Bda Paz conversou com Diálogo durante a Conferência de Segurança Centro-Americana (CENTSEC) 2018, realizada nos dias 9 e 10 de maio em San Salvador. A CENTSEC 2018 é um fórum regional que permite aos líderes de defesa e segurança pública examinar as ameaças à estabilidade para consolidar novos mecanismos de colaboração regional para desativar as redes ilícitas.
Diálogo: Qual é o objetivo da participação da Guatemala na CENTSEC 2018?
General-de-Brigada do Exército Julio César Paz Bone, chefe do Estado-Maior da Defesa Nacional da Guatemala: Queremos oferecer o nosso apoio para que, junto com nossos países vizinhos e aliados, tenhamos as condições necessárias para intercambiar ideias e propostas que nos permitam melhorar a cooperação bilateral e multilateral em matéria de segurança regional. É importante estreitar laços de amizade para ter essa comunicação rápida e efetiva que nos permita combater as ameaças de segurança que enfrentamos.
Diálogo: Que iniciativas conjuntas a Força Armada da Guatemala executa para combater as organizações transnacionais?
Gen Bda Paz: São várias as iniciativas. Temos o treinamento conjunto, interinstitucional e combinado para incrementar nossas capacidades de resposta. Contamos com as forças-tarefa institucionais compostas pelo pessoal militar e pela Polícia Nacional Civil (PNC) destacadas ao longo das fronteiras com El Salvador, Honduras e México. Neste momento, estamos trabalhando na criação de uma quarta força-tarefa que cobrirá a parte norte da fronteira com o México, que se chamará Força-Tarefa Tikal. Além disso, contamos com o intercâmbio de informações e inteligência, que vem dando resultados positivos para neutralizar as ameaças que as ações do crime organizado transnacional representam. Igualmente, aumentamos a participação das unidades militares junto aos cidadãos que moram em locais de risco, por meio de exercícios multinacionais de resposta aos desastres naturais.
Diálogo: Em 2017 a criminalidade na Guatemala diminuiu. A que se deve o sucesso na redução da criminalidade no país?
Gen Bda Paz: O Exército da Guatemala apoiou a PNC durante mais de 18 anos, enquanto a PNC aumentava suas capacidades de formação de oficiais e agentes, quanto à investigação criminal e a outras tarefas próprias da segurança dos cidadãos. Contudo, em 31 de março de 2018, nosso apoio à PNC terminou e o pessoal militar passou a realizar sua função natural de salvaguardar a soberania da Guatemala. Essa redução também se deve às ações preventivas de informação à população, a programas voltados para jovens em situação de risco propensos a serem recrutados pelas quadrilhas, planos de relações civis-militares, entre outras ações. Essa diminuição da criminalidade também foi resultado da criação das forças-tarefas interinstitucionais e dos comandos de elite.
Diálogo: A PNC está preparada para assumir a segurança dos cidadãos?
Gen Bda Paz: Sim, está preparada. A PNC adquiriu essas capacidades; hoje ela tem a quantidade de pessoal necessária e se profissionalizou bastante, o que gerou essa capacidade de oferecer segurança aos cidadãos.
Diálogo: Que êxitos o projeto interinstitucional Plano Fortaleza conseguiu na luta contra as organizações criminosas internacionais?
Gen Bda Paz: O Plano Fortaleza beneficia a segurança dos guatemaltecos. O plano foi implementado pelo Exército para atuar em cinco áreas de missão: a segurança de fronteiras, a soberania nacional, a cooperação no desenvolvimento nacional, a proteção das áreas de valor estratégico do país e a área que já finalizamos, que era a do apoio à PNC. Realizamos mais de 20.000 operações que permitiram apreensões históricas de ilícitos, bens e dinheiro. Além disso, contribuímos por meio do Corpo de Engenheiros do Exército na recuperação de estradas, centros de saúde, escolas e na realização de campanhas médicas com o apoio do Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM). Temos trabalhado em conjunto com o SOUTHCOM e os países da América Central, incluindo o México, para poder atingir essa interconexão e concretizar esse apoio em termos de informações e inteligência, o que nos levou aos êxitos alcançados. Em 2017 foram apreendidos cerca de 13.000 quilos de cocaína por meio da Força Especial Naval e neste primeiro quadrimestre apreendemos cerca de 75 por cento em comparação com as apreensões do ano passado [2017].
Diálogo: No dia 27 de abril terminou o exercício Forças Aliadas Humanitárias (FAHUM) 2018, que realizou uma simulação da erupção do vulcão de Fogo na Guatemala, sob os auspícios do SOUTHCOM e contando com a participação aproximada de 3.000 pessoas de diferentes órgãos governamentais e observadores internacionais. Que lições aprendidas o exercício deixou para as operações combinadas, conjuntas e interagenciais futuras entre as nações parceiras?
Gen Bda Paz: O fundamental do exercício FAHUM foi a consolidação das relações interpessoais e o treinamento interinstitucional. Com o FAHUM se obteve experiência na forma de canalizar a ajuda e a assistência humanitária provenientes de nações parceiras e fazê-las chegar de acordo com os canais de distribuição estabelecidos. Com a presença de tantos observadores internacionais e pessoal de outros países, constatamos as capacidades reais que temos para enfrentar algum tipo de desastre natural. Um dos maiores êxitos do FAHUM é o fomento da cultura da prevenção, que permitiu a participação dos habitantes de duas comunidades localizadas nas encostas do vulcão.
Diálogo: Um dos problemas de segurança mais importantes que a Guatemala enfrenta é a vulnerabilidade do espaço aéreo e a porosidade das fronteiras. Que ações interagenciais, conjuntas e combinadas as forças armadas realizam para superar essa vulnerabilidade?
Gen Bda Paz: Temos melhorado nossas capacidades e potencializado nossa Força Aérea com recursos próprios. As plataformas aéreas nos proporcionam muitas informações para interceptar carregamentos que vêm de alto-mar. Contamos com um sistema de radares primários que, juntamente com a plataforma aérea, transmite informações ao pessoal da Força Especial Naval, que percorre em alguns casos até 300 milhas náuticas para interceptar narcotraficantes no mar. No início de maio realizamos uma operação conjunta com o serviço de guarda costeira dos Estados Unidos que apreendeu 3.000 kg de cocaína de uma embarcação com bandeira da Tanzânia. Uma semana antes, em uma operação própria combinada, foram confiscados 957 kg de cocaína.
Diálogo: O México e a Guatemala mantêm uma cooperação bilateral ativa no combate ao crime organizado transnacional. Quais são as operações de interceptação marítima, aérea e terrestre realizadas de forma rotineira para combater essa ameaça à segurança?
Gen Bda Paz: O sucesso no combate ao crime organizado transnacional dos dois países nasce das reuniões binacionais entre os comandantes das brigadas de fronteira para as operações no ar, no mar e na terra. O intercâmbio de informações entre o México e a Guatemala em tempo real é fundamental para lutar contra o tráfico de drogas. A relação entre ambas as forças navais se baseia na confiança e nas operações combinadas. As ações combinadas se desenvolvem no marco da Junta de Comandantes Militares da Área Fronteiriça Guatemala-México.
Diálogo: Qual é a importância da cooperação entre as nações parceiras para combater os flagelos de segurança?
Gen Bda Paz: A delinquência, o narcotráfico e outros atos ilícitos não reconhecem fronteiras.
A importância da cooperação entre as nações parceiras para combater esses flagelos advém da confiança e do planejamento estratégico, que permitem a integração das capacidades para vencer as ameaças emergentes. Como parte dos países da região, encaramos esse problema com a seriedade exigida e trabalhamos em conjunto para compartilhar informações. Os países da região têm confiança para trabalhar em conjunto, em especial a Guatemala.