No dia 1º de abril, os Estados Unidos anunciaram o lançamento das operações avançadas antinarcóticos no Mar do Caribe, para combater o fluxo de drogas ilícitas para os EUA através de agentes malignos que se aproveitam da pandemia do coronavírus. Durante o anúncio, ao lado do presidente Donald Trump, do secretário de Defesa Mark Esper e do chefe do Estado-Maior Conjunto Mark Milley, estava o Almirante de Esquadra Karl L. Schultz, 26º comandante da Guarda Costeira dos EUA (USCG, em inglês). Diálogo entrevistou o ex-diretor de Operações (J3) do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM) para falar sobre seus principais objetivos, desafios e a COVID-19, entre outros tópicos.
Diálogo: Qual é o seu principal objetivo e o maior desafio como comandante da USCG?
Almirante de Esquadra Karl L. Schultz, comandante da Guarda Costeira dos EUA: Eu penso como parte da equipe de serviço, e é essa a função do comandante: administrar, treinar e equipar os homens e mulheres da Guarda Costeira. Temos 11 missões estatutárias e eu tive que separá-las em três linhas de esforços: garantir a segurança da pátria, aumentar a prosperidade econômica e promover nossos outros interesses de segurança nacional, sendo que uma grande parte desse suporte é do âmbito dos comandantes combatentes, incluindo nosso relacionamento com o SOUTHCOM. Um dos meus esforços de maior destaque nos últimos dois anos tem sido ajustar a prontidão da Guarda Costeira e o pilar-chave dessa prontidão no nosso serviço é o que eu denomino força total de trabalho pronta para a missão. Trata-se de aumentar a capacidade da força de trabalho, que cria os alicerces para a ampliação da diversidade da nossa força. Nós colocamos as ferramentas nas mãos do nosso pessoal para que eles realizem um trabalho importante para a nação.
Diálogo: A COVID-19 também é considerada um grande desafio?
Alte Esq Schultz: Acho que a COVID-19 afeta cada um dos aspectos da vida das pessoas em todo o mundo nesse momento e, com certeza, impacta a Guarda Costeira. Tenho muito orgulho dos homens e mulheres da nossa Guarda Costeira. Continuamos cultivando nosso relacionamento com o SOUTHCOM e mantemos muitas embarcações na área de responsabilidade (AOR, em inglês), efetuando tarefas antinarcóticos durante toda a pandemia. Estamos realizando trabalhos de resgate, e eu mencionei que uma das nossas principais linhas de esforço é promover a prosperidade econômica – existem 361 portos no país e 40.234 quilômetros de hidrovias navegáveis. Estamos capacitando a economia, mas obviamente sofremos alguns duros golpes, pois as remessas de contêineres caíram de 20 a 30 por cento. Os preços do barril de petróleo estão afetando também o setor de energia, mas estamos fazendo todo o possível para manter a economia e ajudar o país a se recuperar, enquanto realizamos tarefas de resgate, operações antinarcóticos e interdições de migrantes, o que representa o total das missões da Guarda Costeira.
Diálogo: O senhor foi diretor de Operações do SOUTHCOM. Qual foi a lição mais importante aprendida durante seu mandato e como usa essa experiência na sua função atual?
Alte Esq Schultz: Acho que a maior conquista foi mais uma revalidação do que uma lição aprendida. Uma das coisas que eu realmente apreciei durante meus dois anos no SOUTHCOM foram as parcerias. O SOUTHCOM está integrado com mais de 30 países do hemisfério ocidental. Eu olho para trás e vejo onde estávamos há dez anos, mas eu tenho participado, de uma maneira ou de outra, dessas missões antinarcóticos durante a maior parte dos meus 37 anos na Guarda Costeira e vejo o nível de contribuição das nações parceiras. Eu diria que 50 a 60 por cento de todas essas interdições de narcóticos contaram com a contribuição das nações parceiras. Eu acredito que algo entre 20 e 40 por cento dessas interdições efetivamente obtiveram os seus resultados finais graças à participação das nações parceiras. Fico muito feliz com a excelência do SOUTHCOM para criar capacidades de parceria.
Diálogo: Como a USCG contribui para a atual luta contra o narcotráfico que foi lançada no dia 1º de abril?
Alte Esq Schultz: Acho que os comandantes do SOUTHCOM, o Almirante de Esquadra Kurt W. Tidd, o Almirante de Esquadra (FN) John F. Kelly e agora o Almirante de Esquadra Craig S. Faller se referem à Guarda Costeira como se fosse a Marinha do SOUTHCOM. Nós continuamos a ser, na minha opinião, o principal provedor de força em qualquer momento. Com toda a certeza, apoiamos o aumento dos conveses e capacidades da Marinha dos EUA, além dos recursos do Departamento de Defesa que contribuem para essa operação antinarcóticos. Não entrarei em muitos detalhes devido à sensibilidade operacional, mas estamos todos na luta. Continuaremos lutando, porque entre 60.000 e 70.000 mortes ocorrem nas ruas dos EUA todos os anos devido a overdoses de drogas e violência relativa ao narcotráfico, por isso é importante. Eu testemunhei em primeira mão durante a minha carreira, incluindo o período em que estive no SOUTHCOM, o efeito destruidor, corrosivo e desestabilizador das drogas na América Latina, bem como esses efeitos malignos das drogas em lugares como El Salvador, Guatemala e Honduras. Assim sendo, estamos todos na luta e manteremos o nosso compromisso com as orientações do presidente.
Diálogo: O senhor poderia falar mais sobre o relacionamento da USCG com a Força-Tarefa Conjunta Interagencial Sul (JIATF-Sul)?
Alte Esq Schultz: A JIATF-Sul existe há mais de 30 anos e eu acredito que seja o principal centro conjunto interagencial, internacional e colaborativo do mundo, quando se trata de combate ao narcotráfico. E, sem dúvida, tem a função mais importante em tarefas de detecção e monitoramento sob as ordens do Contra-Almirante DeQuattro [Contra-Almirante Pat DeQuattro, diretor da Guarda Costeira dos EUA, JIATF-Sul]. Somos um dos serviços que fornecem forças e capacidades de objetivo final, então sim, a JIATF-Sul é extremamente importante, junto com as nações parceiras participantes, para combater as ações do narcotráfico. Gostaria apenas de acrescentar que a Guarda Costeira dos EUA, em parceria com o SOUTHCOM, incluindo as contribuições das nações parceiras, claramente mantém seu compromisso na região. Não sei exatamente como será o novo normal, mas acredito que será importante elaborar o novo normal juntos, através das lentes da parceria colaborativa, para fortalecer a segurança do hemisfério ocidental.