A ONG venezuelana Fundares denunciou no início de fevereiro de 2022 a devastação ecológica causada pela mineração ilegal no Arco Mineiro do Orinoco, no estado de Bolívar da Amazônia venezuelana. “O grave impacto ambiental continua sem controle”, devido às empresas autorizadas pelo regime de Nicolás Maduro para a exploração de ouro, “além das ações de grupos criminosos que operam na região”, disse Fundaredes.
O Arco Mineiro, uma zona de exploração de recursos minerais criada em 2016 por Maduro, abrange uma área de 112.000 quilômetros quadrados de floresta tropical ao sul do rio Orinoco, compreendendo oito parques nacionais, incluindo o Parque Nacional de Canaima, considerado patrimônio mundial, bem como duas reservas da biosfera que estão entre as áreas de maior riqueza biológica do mundo. Muitas das minas, diz a Global Forest Watch, uma iniciativa da ONG de pesquisa Instituto de Recursos Mundiais, “são dirigidas por gangues criminosas venezuelanas ou grupos guerrilheiros da Colômbia sob a proteção dos militares venezuelanos”.
A sedimentação dos rios e o desmatamento são alguns dos efeitos da mineração ilegal no Arco Mineiro, afirmam as organizações ambientais. O envenenamento por mercúrio, às vezes misturado com cianeto, é outro impacto dessas atividades na região. “O mercúrio se acumula biologicamente […], encontrando-se concentrações crescentes em animais da cadeia alimentar. É uma neurotoxina potente que pode causar danos neurológicos e morte tanto em animais como em humanos”, declara a SOS Orinoco, uma ONG que aponta para o desastre humano e ambiental na Amazônia e Orinoquia venezuelanas.
No segundo semestre de 2021, a SOS Orinoco publicou vários relatórios sobre as conseqüências do que eles chamaram de “voragem socioeconômica”, formada em torno da exploração de ouro, coltan e outros metais preciosos da área. De acordo com esses documentos, existem pelo menos 374 minas na área onde operam mais de 50.000 pessoas.
“Pranes (líderes de quadrilhas de prisão), megabandas (grandes organizações criminosas com mais de 50 membros), sindicatos (quadrilhas originalmente vinculadas a sindicatos poderosos), coletivos (grupos paramilitares), o Exército de Libertação Nacional e dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia operam na região” e lutam pelo controle das minas, diz o grupo de especialistas do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais em um relatório de abril de 2020.
Mas, de acordo com a organização internacional InSight Crime, uma das gangues que mais cresceu é a Organização R (OR), que conseguiu se posicionar como uma das principais potências do Arco Mineiro. “Poucos […] tinham ouvido falar da OR. Os relatórios da região concentraram-se nos esforços militares para tomar o controle do comércio do ouro […] das gangues criminosas, em uma campanha liderada pelo círculo interno do […] Maduro e, de acordo com investigações da mídia e fontes locais, coordenada com guerrilheiros colombianos”, diz a InSight Crime.
As tentativas do regime para controlar a mineração ilegal levaram a uma espiral de violência que parece estar fora de controle. Segundo Roberto Briceño, diretor do Observatório Venezuelano da Violência, três dos cinco municípios com as maiores taxas de homicídio do país, El Callao, Sifontes e Roscio, estão nas áreas de mineração do estado de Bolívar.
Segundo a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferencial, um consórcio de organizações da sociedade civil dos países amazônicos, a Amazônia venezuelana perdeu em 20 anos, desde a revolução bolivariana, mais de 10 milhões de hectares de floresta, dos quais 80 por cento está localizado ao sul do Orenoco.
“Sem dúvida, o Arco Mineiro tem incentivado uma aceleração na transformação da cobertura florestal diretamente através da mineração”, concluiu a SOS Orinoco.