As operações do Comando Conjunto de Operações Especiais (CCOES) das Forças Militares da Colômbia adotam o lema “Homens especiais para cumprir missões especiais”. O General de Brigada do Exército Jorge Arturo Salgado Restrepo, seu comandante até dezembro de 2018, exaltou o trabalho do seu pessoal especializado. O CCOES se consolidou como comando conjunto em abril de 2009. Desde então já atingiu sucessos operacionais que deram renome internacional às Forças Militares, pois foi sob a sua liderança que a Colômbia conseguiu neutralizar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
O Gen Bda Salgado estive empenhado na contínua profissionalização do seu pessoal. O oficial conversou com Diálogo durante uma visita às instalações do CCOES em Bogotá, em outubro de 2018, e falou sobre as capacidades desses homens, o treinamento, o trabalho interagências e outros temas.
Diálogo: Qual é a missão do CCOES? Como o CCOES é formado?
General de Brigada Jorge Arturo Salgado Restrepo, ex-comandante do Comando Conjunto de Operações Especiais das Forças Militares da Colômbia: Nossa missão é realizar operações contra alvos de alto valor estratégico. Para alcançar este objetivo, integramos nossas capacidades de inteligência e operacionais com as das Forças Militares e da Polícia Nacional. Na Colômbia, a Polícia Nacional está sob o comando do setor de defesa, e trabalhamos lado a lado com eles.
O CCOES é composto por três componentes: o terrestre, que inclui a Divisão de Forças Especiais do Exército da Colômbia, formado por três regimentos e três batalhões com cerca de 4.000 homens; o componente aéreo, com o grupo de Operações Aéreas Especiais; e o componente da Marinha, formado pelo Batalhão de Forças Especiais do Corpo de Fuzileiros Navais, cada um com suas capacidades. Quando recebemos uma missão, fazemos uma análise total do ambiente operacional e decidimos qual é a capacidade ideal que devemos utilizar, de acordo com fatores como inimigo, tempo, terreno, tropas disponíveis etc. Paralelamente a esses componentes, contamos com o Grupo de Forças Especiais Antiterroristas Urbanas.
Diálogo: Quais são os objetivos do CCOES a médio e longo prazo?
Gen Bda Salgado: Nosso objetivo principal é contribuir para derrotar o sistema de ameaça persistente, tal como define o plano de guerra Victoria Plus. Este sistema de ameaça persistente engloba seis subsistemas: o armado, o de redes de apoio, o de recursos, o de território, o político e o de comando e controle. O CCOES tem a missão de atacar o subsistema de comando e controle. Sob uma diretriz do ministro da Defesa, nós nos reunimos com as agências de inteligência, e em comum acordo determinamos os alvos estratégicos de alto valor do país. Contamos também com os planos de segurança e fronteira com os países vizinhos, onde cumprimos uma missão de ataques a alvos de alto valor estratégico.
O CCOES se transformou. A assinatura do processo de paz com as FARC forçou uma transformação completa das Forças Armadas e nós não ficamos alheios a essa mudança. Antes era mais fácil determinar todos os alvos de alto valor estratégico de acordo com a própria organização estrutural da ameaça. Hoje em dia a ameaça é diferente, pois já temos grupos armados organizados com muitas implicações e atuações do narcotráfico; portanto, definir os líderes e os alvos de alto valor se torna cada vez mais complexo. Este é um grande desafio que enfrentamos muito bem.
Diálogo: Quais foram as conquistas do CCOES desde a sua criação?
Gen Bda Salgado: O CCOES – digo sem medo de estar errado – foi uma peça fundamental para a derrota das FARC. O fato de termos neutralizado 90 por cento do subsistema de comando e controle da organização, sem dúvida, os levou a uma negociação a partir de uma posição mais debilitada do que a que tinham quando começamos a atuar, em 2009. A neutralização desse secretariado das FARC foi a maior conquista do CCOES.
Diálogo: As forças especiais da Colômbia gozam de prestígio internacional muito alto com operações como a Jaque, Armagedón, Camaleón e Odiseo. A que se atribui o sucesso dessas operações?
Gen Bda Salgado: Sem dúvida, a um treinamento muito rigoroso e, especialmente, a uma capacitação, atualização e modernização da doutrina e do intercâmbio de conhecimentos com outros países, onde, evidentemente, os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar. O CCOES é uma organização que nasceu pelas mãos dos Estados Unidos; trata-se de um exército cuja criação foi acompanhada de perto pelo Exército dos EUA, pelas Forças Militares e pelo próprio país. Ter dado esses primeiros passos junto com os EUA nos elevou a esses altos padrões.
Diálogo: O CCOES é considerado um componente interagências. Como se desenvolve essa coordenação de interoperacionalidade?
Gen Bda Salgado: Trabalhamos com alguns tanques de planejamento operacional estratégico (TPOE), que são mesas de trabalho formadas pelo CCOES, pela inteligência da Polícia Nacional, pelo Corpo Técnico de Investigações e por outras agências nacionais e dos EUA. Através da política ministerial que nos define os alvos de alto valor estratégico, são designados os alvos a cada TPOE, os quais são monitorados 24 horas por dia. Os TPOE constroem esse alvo através de informações e inteligência obtidas a nível nacional. Esse sistema cria um modelo matemático que nos acende a luz verde para que o tornemos operacional.
Diálogo: Os meios de comunicação catacterizaram as forças especiais como o pior pesadelo do narcotráfico e das guerrilhas. A que se atribui esse rótulo e quais são as suas maiores conquistas no processo de paz da Colômbia?
Gen Bda Salgado: O Exército da Colômbia e as Forças Militares em geral são as instituições mais queridas do nosso país há anos, devido à confiança que depositam em nós. Recebemos esse elogio com enorme orgulho e carinho porque vivemos e existimos para a Colômbia. Os meios de comunicação fazem parte de todos esses sistemas. Na década de 1990 havia alguns líderes de renome no narcotráfico, muito brutais e sangrentos, que causaram muitos danos ao país. Muitos chefes das FARC e, de alguma maneira, o país, sentiram naquele momento que não conseguiríamos derrotar as FARC, que a organização era invencível. No entanto, graças a esse tipo de capacidades como o CCOES, conseguimos demonstrar o contrário. Nada substitui essa percepção direta nacional de ver neutralizadas todas essas estruturas de comando e controle de terroristas e do narcotráfico.
Diálogo: Que tipo de relação as Forças de Operações Especiais da Colômbia mantêm com os Estados Unidos e com outras nações parceiras da região?
Gen Bda Salgado: Temos uma relação diária e pessoal com os Estados Unidos. Com as forças especiais do Exército dos EUA temos uma relação permanente e constante em todos os componentes de capacidade, já que contamos com seus membros em nossa organização, os quais nos acompanham em todos os nossos processos, como os temas de doutrina, organização, treinamento, pessoal, sustentabilidade e logística. Mantemos intercâmbios com outros países, treinamos vários países aqui, participamos de seminários e compartilhamos a competência de Forças Comando.
Diálogo: A Escola de Forças Especiais tem uma longa trajetória de preparação dos seus integrantes. Qual o tipo de treinamento que eles recebem? O senhor poderia falar sobre a projeção da escola no âmbito internacional? A escola realiza algum tipo de treinamento em nível internacional, particularmente com os Estados Unidos?
Gen Bda Salgado: A Escola de Forças Especiais é um componente fundamental no nosso sistema, portanto nos integramos nos processos de capacitação e treinamento. Nossos oficiais, suboficiais e nosso pessoal realizam os cursos de forças especiais para combater nos ambientes terrestres, aéreos e aquáticos. Realizamos uma retroalimentação de forma permanente daquilo que ocorre no campo de combate, visto que essas guerras assimétricas são muito dinâmicas e mutantes. O que fazíamos há dois anos o inimigo já aprendeu e não é mais eficaz. Trata-se de um processo de aprendizado permanente e a nossa escola está na vanguarda de todos esses processos de lições aprendidas.
A escola tem projeção a nível internacional, pois ali são preparados os oficiais e suboficiais de países como o Brasil, Chile, Equador, Panamá e México, entre outros, em cursos de salto livre, mergulho, combate, de diferentes capacidades. Temos uma projeção internacional muito especial e caminhamos lado a lado com os EUA, o que queremos ampliar para melhorar as capacidades do treinamento compartilhado.
Muitos dos nossos homens participam de uma grande diversidade de cursos no sistema de operações especiais dos EUA sobre temas individuais e de grupos e, ao mesmo tempo, militares americanos treinam nosso pessoal em determinadas capacidades, tais como infiltrações em grande altura, paraquedismo, movimentação em parapente e atiradores de alta precisão. Nós vamos aos Estados Unidos para treinar desde os cursos básicos, como o de ranger, até os cursos técnicos de manejo de sistemas, rádios, de toda uma variedade de capacidades e materiais utilizados nas operações especiais.
Diálogo: Qual é a mensagem que o senhor tem para as Forças de Operações Especiais do hemisfério?
Gen Bda Salgado: Parabenizar todos os homens das forças especiais porque nós somos a esperança dos povos. Aqui na Colômbia sempre encontrarão forças especiais parceiras, abertas e dispostas a aprender.