A Força Aérea Brasileira (FAB) e o Exército Brasileiro (EB) estão participando, desde 22 de janeiro de 2023, dos esforços governamentais para levar ajuda humanitária aos indígenas Yanomamis, na região de Surucucu, estado de Roraima. O povo Yanomami está enfrentando uma crise humanitária com doenças, violência e fome provocadas por atividades de mineração ilegal que se espalharam por toda a sua reserva indígena. O governo brasileiro declarou estado de emergência de saúde pública.
As operações de mineração ilegal em terras Yanomami, que têm a proteção de organizações criminosas transnacionais como o Primeiro Comando da Capital, de acordo com um relatório do Projeto de Denúncia de Crimes Organizados e Corrupção, uma organização internacional de investigação jornalística especializada em crime organizado, estão disseminando doenças, violando os direitos humanos, prejudicando o meio ambiente.
Os garimpeiros ilegais poluíram as águas com mercúrio, limparam grandes áreas de floresta para dragar ouro, matando os peixes e outros animais e contaminando as águas das quais os Yanomami dependem para sobreviver. Eles também voam em pequenas aeronaves para pistas de pouso clandestinas, para trazer peças ou combustível para o maquinário.
De acordo com equipes do Ministério da Saúde, durante os últimos quatro anos, centenas de crianças yanomamis morreram vítimas de desnutrição, pneumonia e malária, contaminação de mercúrio e falta de acesso a medicamentos. Foram confirmados ainda 11.530 casos de malária entre os indígenas, em 2022.
A FAB está usando suas aeronaves para realizar o envio de cestas básicas às terras Yanomami, uma vez que a localidade é de difícil acesso. Até o dia 31 de janeiro, as Forças Armadas contabilizavam 61,1 toneladas de mantimentos e remédios transportados, além de 37 evacuações aeromédicas para hospitais.
A FAB implantou também um hospital de campanha na região, com equipe multidisciplinar, formada por militares médicos, enfermeiros, farmacêuticos e técnicos de enfermagem. Os pacientes em estado mais grave estão sendo levados por aeronaves para hospitais de Boa Vista, capital de Roraima.
“Uma equipe multidisciplinar está fazendo o levantamento das necessidades. O importante é que o atendimento será resolutivo. Por exemplo, as indígenas poderão fazer o preventivo ginecológico e receber o resultado na hora”, enfatiza o diretor do Hospital de Aeronáutica de Manaus, Coronel Médico Rodolfo José Seraphico de Souza Siqueira.
O povo Yanomami vive ao norte da Floresta Amazônica, no Brasil e na Venezuela. A maior parte nos estados de Roraima e Amazonas, no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, atualmente o povo Yanomami na parte brasileira é composto por aproximadamente 30.400 indígenas.
“O garimpo está matando o meu povo e também os parentes Munduruku e Caiapó. Criança é mais valiosa que ouro”, afirmou Davi Kopenawa, líder Yanomami, ao jornal Folha de São Paulo, em 27 de janeiro. Ele contou que a situação vivida por seu povo agora é a mais grave da história. “Quando os indígenas ficam doentes, eles não conseguem trabalhar [na roça] ou caçar”, acrescentou Kopenawa.
O governo brasileiro anunciou, no dia 31 de janeiro, medidas para retirar e manter garimpeiros fora do território Yanomami, envolvendo a Polícia Federal, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, o Ministério da Defesa, entre outros órgãos. O EB ficará responsável por realizar o trabalho de campo, para identificação de criminosos. A Marinha do Brasil vai prestar apoio com barcos, com a vigilância nos rios. A FAB, além de enviar doações para o povo Yanomami, vai monitorar o espaço aéreo.
“Qualquer voo suspeito vai ser obrigado a desviar a rota e pousar numa pista para ser identificado”, disse o ministro da Defesa, Múcio Monteiro. O Ministério do Meio Ambiente está articulando com o Ministério da Defesa para manter uma base permanente de fiscalização para evitar a volta dos garimpeiros ao território.