A tecnologia do Brasil para monitorar os focos de incêndio na Amazônia agora ajudará a proteger toda a floresta tropical, independentemente das fronteiras, já que os países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) agora podem ter acesso a ela.
A tecnologia do “Painel do Fogo” do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), órgão do Ministério da Defesa do Brasil, está disponível desde julho para os países da OTCA, composta por Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

A ferramenta, uma plataforma Web para auxiliar equipes especializadas na detecção e combate a incêndios florestais, disponibiliza informações sobre incêndios e queimadas em tempo próximo ao real, com o objetivo de subsidiar o acionamento de brigadas ou batalhões durante o combate ao fogo. O sistema une informações geoespaciais, de imagens de satélites e dados de um indicador de nível de severidade.
“Atualmente, o Painel do Fogo é a única ferramenta que disponibiliza um produto de sensoriamento remoto chamado de evento de fogo para todo o bioma Amazônico, além dos outros biomas que compõem o Estado brasileiro. Enquanto os focos de calor nos dão uma fotografia no momento da passagem do satélite, os eventos de fogo dão um passo a mais, individualizando cada ocorrência e caracterizando-as quanto à duração, à velocidade de expansão e à direção da evolução. Dessa forma, o usuário do Painel do Fogo consegue classificar os eventos quanto à prioridade de combate”, disse o Censipam à Diálogo, em um comunicado.
A ferramenta tem ajudado os combatentes a chegar mais rápido ao local de ocorrência do fogo, evitando, assim, que novos focos de calor venham a surgir, eliminando tempo e recursos gastos para realizar rondas em áreas vulneráveis. Essa é uma grande vantagem, considerando que no período de estiagem da Amazônia há mais ocorrências de fogo do que combatentes.
De acordo com o Censipam, embora haja monitoramento em outros países, é necessária uma padronização de metodologias para que haja uma resposta efetiva contra o fogo no bioma Amazônico, quanto ao acionamento das equipes, sobretudo em regiões transfronteiriças, onde existe a possibilidade de combate a incêndios envolvendo dois países ou mais.
“A padronização vai além do combate conjunto. Oportuniza também o compartilhamento das formas de tomada de decisão a partir dos padrões de incêndios e queimadas que ocorrem na área de abrangência monitorada pelo Painel do Fogo”, afirma o Censipam. “Tanto a OTCA quanto o Censipam enxergam no serviço do Painel do Fogo uma oportunidade de padronizar o acionamento e monitoramento da ocorrência do fogo, podendo gerar mais sinergia entre os países em ocorrências muito severas ou até mesmo ocorrências em área de fronteira”, acrescenta o comunicado.

A primeira vez que a ferramenta foi utilizada fora do Brasil foi em fevereiro de 2023, quando auxiliou o Chile no combate aos incêndios florestais que atingiam a zona centro-sul do país andino. Ainda de acordo com a nota, neste momento, Bolívia e Peru são os países que estão usando de forma mais intensa a ferramenta, por estarem em período e clima mais propícios a incêndios.
O Painel do Fogo foi lançado em 2021, mas passou por uma atualização e hoje oferece diversas funcionalidades, como priorização de eventos, imagens óticas atualizadas do terreno, gráficos de evolução dos incêndios ao longo dos dias, imagens noturnas e a posição das últimas detecções das frentes de fogo.
O Censipam acrescentou que o Painel do Fogo acaba indiretamente ajudando no combate a organizações criminosas atuando na área amazônica. “Considerando que muitos desses eventos de fogo mais severos são frutos de ilícitos ambientais e, como a ferramenta está preparada para gerar uma consciência situacional da ocorrência, é comum que os combatentes se deparem com casos vinculados a organizações criminosas”, concluiu.