No dia 28 de agosto de 2019, a Bolívia enviou 96 toneladas de carne bovina para a China, sua primeira remessa ao país asiático. O presidente da Bolívia, Evo Morales, oficiais chineses e representantes da pecuária do país comemoraram o evento como o início de uma relação comercial promissora.
O fato ocorreu em meio a uma crise nacional, quando incêndios arrasavam a Amazônia boliviana. Organizações ambientais acusaram o governo de Morales de ser responsável pelos incêndios, por haver aprovado uma série de leis que beneficiam o setor agropecuário em prejuízo das áreas naturais. Os ativistas entraram no evento, realizado em Santa Cruz de la Sierra, no estado de Santa Cruz, com cartazes que diziam: “pecuária assassina”.
Durante dois meses, mais de 7.000 membros das Forças Armadas, da Polícia e do Corpo de Bombeiros, com o apoio internacional, combateram o fogo na Amazônia. No início de outubro, com a chegada das chuvas fortes, terminou a luta contra os incêndios que, segundo números oficiais do governo, destruíram mais de 4 milhões de hectares de florestas.
A Amazônia ocupa 24 por cento de todo o território boliviano e se estende ao longo de cinco estados, incluindo o estado de Santa Cruz, líder da produção pecuária com 43 por cento de um rebanho de gado no total de 10 milhões, informa o Instituto Nacional de Estatísticas da Bolívia. Antes de começar a exportar carne bovina para a China, a Bolívia só exportava para o Peru e o Equador. Dados oficiais indicam que das mais de 250.000 toneladas de carne produzidas em 2018, apenas 18.000 foram destinadas à sua comercialização no exterior.
O acordo com a China para exportação de carne, assinado em abril de 2019, criou grandes expectativas no país andino. A China, com uma população de 1,4 bilhão de habitantes, é o mercado importador de carne bovina que mais cresceu em todo o mundo, com mais de 1 milhão de toneladas importadas em 2018, informa a editoria internacional de estudos de mercados Inderbox.
Durante o evento que inaugurou a exportação de carne bovina para a China, o presidente da Confederação de Pecuaristas da Bolívia, Óscar Ciro Pereyra, explicou a meta do país para 2030: chegar a produzir mais de 200.000 toneladas de carne para a exportação, o que implicaria uma entrada de divisas de US$ 800 milhões.
Entre 2013 e 2015, o governo de Morales aprovou três leis concedendo perdões para o desmatamento ilegal para o uso agrícola. Além disso, em setembro de 2015, foi promulgada uma lei que autorizava o desmatamento livre de até 20 hectares (ao invés de 5 hectares) em pequenas propriedades. O decreto de julho de 2019 autoriza queimadas controladas nos estados de Santa Cruz e Beni – ambos foram afetados pelos incêndios – para ampliar a produção e exportação de gado bovino.
O plano de expansão da fronteira agrícola do governo busca aumentar a superfície cultivada de 3,4 milhões de hectares para até mais de 10 milhões de hectares até 2025.
Os ativistas ambientais enfatizam que o plano não aborda a questão do desmatamento. Segundo um relatório da Fundação Amigos da Natureza, um grupo ambiental baseado em Santa Cruz, a pecuária é responsável por mais de 60 por cento da perda de florestas na Bolívia.