O extremo austral das Américas foi o cenário da 22ª edição do exercício naval combinado Viekaren, que reuniu as marinhas do Chile e da Argentina em Ushuaia, capital da província de Terra do Fogo, apelidada de O Fim do Mundo.
“A proximidade física entre Ushuaia e Puerto Williams [Chile], inseridas em uma área de operações sujeita a condições meteorológicas extremas de frio, mar e vento, obriga que haja um conhecimento mútuo”, disse à Diálogo o Capitão de Mar e Guerra Cristian Yáñez, da Marinha do Chile, comandante do Distrito Naval Beagle, em 12 de setembro de 2022. “Nesta área isolada, a sinergia entre as duas marinhas só contribui para aumentar a segurança da navegação e da vida humana no mar.”
A missão do Viekaren XXII foi incrementar a interoperabilidade entre as duas forças, treinar a capacidade de resposta combinada a emergências marítimas e fortalecer os laços de confiança e comunicação entre os dois países. Nesta edição, foi responsabilidade da Marinha do Chile liderar o planejamento e a execução do exercício realizado no final de agosto de 2022.
O CMG Yáñez foi destacado como comandante operacional do Viekaren XXII; a Marinha da Argentina foi representada pelo Capitão de Fragata Ángel Vildoza, chefe do Estado-Maior da Área Naval Austral.
Viekaren (confiança, na língua yagan, do povo do mesmo nome que habitou o território que hoje é a Terra do Fogo), faz parte da confiança mútua contemplada no Tratado de Paz e Amizade de 1984. O exercício, que era feito anualmente, havia sido suspenso por dois anos devido às restrições impostas pela pandemia da COVID-19.
Mais de 150 militares de ambos os países participaram de uma variedade de exercícios de busca e salvamento marítimo, lançamento de barreiras contra a poluição, mergulhos diurnos e noturnos, práticas de soldagem subaquática, manobras de reboque para diferentes unidades navais, mergulhos combinados em um cenário simulado de danos no casco de um navio que requereu inspeção, bem como a simulação de um caso de busca e salvamento (SAR).
“De fato, o exercício final exigiu uma rápida avaliação da situação nas primeiras horas da manhã, devido a uma mudança repentina e violenta nas condições do mar e do vento”, relatou à Diálogo o CMG Yáñez. “Isto nos permitiu verificar se a área de exercício foi selecionada corretamente, permitindo-nos cumprir os objetivos estabelecidos de forma otimizada, mesmo em condições que nos permitiram temperar o espírito das tripulações.”
O CF Vildoza destacou que no “Viekaren as tripulações de ambas as marinhas põem à prova seu profissionalismo nos diferentes tipos de exercícios. Ao longo dos dias, foi demonstrada a versatilidade das unidades e a interoperabilidade entre as marinhas do Chile e da Argentina”.
“Devemos destacar a seriedade com que a série de exercícios foi desenvolvida no âmbito do Viekaren; o clima nos obrigou a aplicar a máxima flexibilidade no planejamento e, apesar disso, todos os exercícios foram desenvolvidos de forma otimizada”, disse o CMG Yáñez ao portal argentino Gaceta Marinera. “Consolidamos os laços de irmandade com nosso país vizinho.”
Após cinco dias de intensas operações, o exercício terminou com uma reunião entre as marinhas de ambos os países, realizada em Ushuaia, para compilar as lições aprendidas e melhorias a serem levadas em conta para as futuras edições do exercício.
“As principais lições aprendidas foram a necessidade de manter uma consciência situacional permanente com ampla capacidade de flexibilidade no planejamento, devido às condições meteorológicas particulares na área de operações”, disse o CMG Yáñez. “Outra lição notável aprendida foi que as operações combinadas requerem um conhecimento mútuo dos procedimentos e terminologias de cada marinha.”
“O desafio que vem pela frente é continuar treinando de forma combinada, com um aumento gradual no nível de complexidade das operações, para reagir corretamente a um caso de SAR na área do Canal Beagle”, concluiu o CF Vildoza.