Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) planejam trabalhar juntos para financiar e ajudar a proteger a infraestrutura digital de países vulneráveis aos ataques cibernéticos, informou o diário dos EUA The Wall Street Journal (WSJ), em 15 de junho.
É provável que a África e a América Latina sejam as primeiras regiões a receber financiamento. A parceria poderia estar em funcionamento no final de 2022, disse o diário. A invasão da Ucrânia pela Rússia ressaltou a importância de proteger as redes de telecomunicações e outros equipamentos nesses países, disse.
“Atualmente, não sabemos que parte da infraestrutura da América Latina é mais propensa a ser vítima de um ciberataque em sua infraestrutura crucial”, disse à Diálogo Esteban Jiménez, diretor de Tecnologia da empresa costarriquenha de cibersegurança Atticyber. “Elevar o nível tecnológico dos países é crucial.”
O acordo poderia fazer com que empresas norte-americanas e europeias apresentem ofertas para proporcionar infraestrutura digital a países, que, de outra forma, poderiam aceitar financiamento da China, disse o portal de análise tecnológica Tech Monitor, sediado no Reino Unido. A tecnologia chinesa tem riscos para a segurança dos dados, disse o WSJ.
As conversações sobre financiamento digital começaram em maio de 2022 no Conselho de Comércio e Tecnologia, afirmou a UE.
“A capacidade de vigiar a Internet, levar os criminosos cibernéticos diante da justiça e cooperar na realização de objetivos mundiais exigirá a ajuda de todas as nações”, escreveu Daniel J. Lohrmann, especialista em cibersegurança, em Government Technology, um portal dos EUA de tecnologia da informação de governos locais e estaduais.
Sob ataque

Os países da América Central e do Sul, segundo Tech Monitor, têm sido alvos regulares de hackers nos últimos anos. A quadrilha Lapsus lançou sua campanha no Brasil, atacando o Ministério da Saúde; a Costa Rica sofreu recentemente vários ataques da quadrilha russa de ransomware Conti, que desativou muitos de seus serviços públicos.
O Centro Cibernético da Polícia Nacional da Colômbia informou em 24 de junho que eles estão registrando o aumento da atividade da Conti, que rouba arquivos, criptografa servidores e estações de trabalho, ameaça divulgar informações confidenciais e exige pagamentos de resgate.
“Os ataques russos deram prioridade aos governos”, indica um relatório de junho da Microsoft. Como resultado, a principal preocupação são os computadores governamentais que funcionam nos escritórios, e não na nuvem. Isto reflete o estado atual e global da espionagem cibernética ofensiva e da proteção cibernética defensiva, afirmou.
“Até este momento [início de julho], a Costa Rica ainda está com 30 ou 40 por cento de capacidade em comparação com o estado antes do ciberataque [de 18 de abril] de Conti. Ainda há muitos serviços a serem reabilitados das mais de 27 instituições que foram afetadas”, disse Jiménez.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB) mostra em um estudo de cibersegurança que apenas sete dos 32 países da América Latina estudados em 2020 tinham um plano de proteção de infraestruturas cruciais, enquanto 20 tinham estabelecido equipes de resposta a incidentes de cibersegurança. Isto limitava sua capacidade de identificar e responder a ataques, destacou o IDB.
Tempos difíceis
No momento, pode ser complicado levar iniciativas tecnológicas a alguns países da América Latina, disse Jiménez.
Por exemplo, “os venezuelanos, na época, estavam avançando a todo vapor com iniciativas tecnológicas no continente. Eles foram completamente retidos de qualquer capacidade tecnológica, porque a tecnologia é um veículo de conhecimento […] e isso não tem utilidade para a extrema esquerda ou fundamentalistas da linha socialista”, declarou Jiménez.
Para “levantar o programa de financiamento digital, [os EUA e a UE] precisam trabalhar com cada país [latino-americano] independentemente, para estabelecer uma avaliação detalhada de suas capacidades defensivas e ofensivas, bem como de sua resiliência para responder a ataques”, concluiu Jiménez.