A Marinha Nacional da Colômbia desfere duros golpes nas organizações internacionais criminosas que tentam transportar drogas das costas do mar do Caribe colombiano rumo ao Panamá em sua rota aos Estados Unidos. Isso mostrou-se evidente na Operação Anfitrite, a primeira operação binacional entre a Marinha colombiana e o Serviço Nacional Aéreo (SENAN) do Panamá. Durante a Anfitrite, realizada em outubro de 2017, foram detectados vestígios marítimos de narcóticos em lanchas rápidas go fast.
O Almirante-de-Esquadra Ernesto Durán González, comandante da Marinha Nacional da Colômbia, concedeu uma entrevista à Diálogo em Bogotá, Colômbia, para falar sobre a Operação Anfitrite, os resultados obtidos e a importância da cooperação internacional para combater as ameaças à segurança regional.
Diálogo: Qual é o objetivo da Operação Anfitrite?
Almirante-de-Esquadra Ernesto Durán González, comandante da Marinha Nacional da Colômbia: É o de combater as ameaças transnacionais mediante a redução de atividades ilícitas realizadas por meio do uso irregular do mar, o que se consegue com operações de interceptação marítima combinadas que impactem o narcotráfico, interrompendo desta maneira o fluxo ilegal de narcóticos gerado atualmente entre a América do Sul e o norte do continente por meio dos espaços marítimos.
Diálogo: Quais são os principais componentes da operação?
Alte Esq Durán: Os principais componentes são o intercâmbio de informações de inteligência de maneira efetiva em tempo real, assim como a interoperabilidade entre as unidades da Marinha da Colômbia e do Serviço Nacional Aeronaval [SENAN] do Panamá.
Diálogo: Um dos principais elementos da operação é o intercâmbio de informações de inteligência em tempo real. Que vantagens esse intercâmbio oferece para combater as organizações criminosas transnacionais?
Alte Esq Durán: Esse intercâmbio de inteligência assegura a eficácia das operações contra as organizações delinquenciais transnacionais, negando-lhes o uso dos espaços marítimos para suas atividades ilícitas.
Diálogo: A operação se baseia no modelo shiprider da guarda costeira dos Estados Unidos. Quais foram as vantagens dessa iniciativa para a operação marítima entre a Colômbia e o Panamá?
Alte Esq Durán: Embora esteja baseada nesse modelo, durante o desenvolvimento da Operação Anfitrite e graças ao planejamento prévio entre as duas nações, conseguiu-se o embarque a bordo da OPV [Offshore Patrol Vessel] ARC Victoria em águas internacionais de um grupo de visita de inspetores do SENAN, que atuaram como primeiros correspondentes no processo judicial no Panamá, o que permitiu agilizar os processos de criminalização do pessoal detido pelo delito de narcotráfico, tornando a operação mais eficaz.
Diálogo: A Operação Anfitrite também tem como referência a experiência da Força-Tarefa Conjunta Interagências Sul sobre patrulhamento aéreo marítimo e manejo de jurisdição territorial e de comunicações. Que lições aprendidas as operações de interdição marítimas oferecem?
Alte Esq Durán: A experiência dos homens e mulheres comprometidos com o trabalho de interceptação não é fácil de executar, pois esse tipo de operação enfrenta situações diferentes. O clima é uma delas, assim como a resposta dos traficantes, além da constante inovação por parte das organizações delinquenciais transnacionais, o que também obriga a desenvolver estratégias de interceptação, pelo que cada experiência deixa lições que devem ser adequadas aos exercícios seguintes.
Diálogo: Qual é a importância de realizar operações combinadas entre a Colômbia e o Panamá?
Alte Esq Durán: São muitas as vantagens que esse tipo de operação oferece; porém, pode-se dizer que a importância reside na cooperação efetiva e na coordenação expedita, o que permite o controle dos espaços marítimos da Colômbia e dos países da América Central.
Diálogo: Quais foram os resultados das operações realizadas entre a Colômbia e o Panamá contra as organizações de narcotráfico?
Alte Esq Durán: O intercâmbio de informações de inteligência entre a Colômbia e o Panamá permitiu grandes resultados na luta contra o narcotráfico, particularmente durante o desenvolvimento da Anfitrite, que conseguiu a apreensão de 2.400 quilos de cloridrato de cocaína, 480 kg de maconha e a detenção de 20 narcotraficantes. Isso se transforma em um duro golpe nas finanças dessas organizações delinquenciais, ao mesmo tempo que interrompe o tráfico desses narcóticos nos países da região.
Diálogo: Qual é a importância da interoperabilidade entre a Marinha Nacional da Colômbia e o SENAN?
Alte Esq Durán: A importância principal é a de interromper o fluxo ilegal de narcóticos gerado atualmente entre a América do Sul e o norte do continente por meio dos espaços marítimos, toda vez que a fronteira entre a Colômbia e o Panamá é utilizada pelas organizações delinquenciais para a coleta e o tráfico de narcóticos para a América Central e do Norte.
Diálogo: O modelo da Operação Anfitrite poderia ser reproduzido pelas demais nações parceiras da região?
Alte Esq Durán: Este é um assunto que deve ser conversado. No entanto, seria muito interessante colocar em prática esse modelo com outros países, tanto da América do Sul quanto da América Central, afetados atualmente pelo flagelo do narcotráfico, para buscar um controle mais eficaz do mar e negar o uso dele às organizações delinquenciais transnacionais, diminuindo assim sua ação delitiva.
Diálogo: Além do trabalho da Marinha Nacional da Colômbia contra o narcotráfico, que outras ameaças à segurança existem na Colômbia e qual é o papel da Marinha para combatê-las?
Alte Esq Durán: Existem no país diversas ameaças, sendo o narcotráfico a de maior preocupação. Além disso, existe o contrabando, a mineração ilegal e vários delitos no mar. A Marinha Nacional tem a responsabilidade de salvaguardar os espaços marítimos e fluviais da nação pelo que constantemente luta contra esses delitos, protegendo a soberania nacional e os interesses da nação.
Diálogo: Que programas de colaboração tem a Marinha da Colômbia com as marinhas da América Latina e do Caribe?
Alte Esq Durán: Atualmente a Marinha Nacional tem relações muito boas com as marinhas e os serviços de guarda-costas dos países da América Central e do Caribe, realizando exercícios operacionais anuais que permitem estreitar os laços de cooperação e amizade. Da mesma forma, pela cooperação triangular são feitas diversas ofertas acadêmicas que são aproveitadas em especial pelos países da América Central, entre os quais se destacam os cursos de aviação naval, fuzileiros navais, inteligência naval e guarda costeira, que são oferecidos em nossas escolas de formação.
Diálogo: Que tipo de trabalho conjunto realizam a Marinha da Colômbia e a Marinha dos Estados Unidos?
Alte Esq Durán: Temos uma excelente relação de cooperação mútua por meio da qual são realizadas diferentes operações contra o narcotráfico e os delitos conexos, com base no Acordo de Interceptação Marítima firmado por ambos os países em 1997. Além do mais, temos uma longa tradição de operações combinadas de treinamento e particularmente a operação PANAMAX, a qual assistimos em todas as suas versões, e a operação UNITAS, da qual, junto com os EUA, somos os únicos países que tiveram participação ininterrupta.
Diálogo: Qual é o saldo das operações da Marinha em 2017 e sua projeção para 2018?
Alte Esq Durán: Durante o ano de 2017 foi possível golpear duramente o narcotráfico e os delitos conexos com a apreensão de 175 toneladas de cloridrato de cocaína, o que representa um golpe econômico de quase US$ 8,8 milhões. Foi possível evitar que as organizações delinquenciais transnacionais recebessem pela venda desse narcótico aproximadamente US$ 6 bilhões, valor pelo qual estaria avaliada essa droga nos Estados Unidos. Também foram confiscados e destruídos todos os insumos químicos necessários para a produção de narcóticos, bem como os seus complexos de produção, e os traficantes foram capturados. Cabe destacar que em 2017 conseguiu-se apreender o primeiro submersível construído cem por cento em aço naval e propulsão elétrica.
Diálogo: Qual é a mensagem para as marinhas dos países da região?
Alte Esq Durán: A Marinha Nacional da Colômbia põe à disposição das nações parceiras suas capacidades e seu nível de prontidão em um mundo globalizado para apoiar as diferentes operações internacionais e de apoio humanitário que contribuíram para o desenvolvimento da região.