A Venezuela está enfrentando novamente a escassez de combustível, após uma breve recuperação, devido às remessas de produtos petrolíferos iranianos em maio. Cinco navios-tanque iranianos que transportavam aproximadamente 1,5 milhão de barris de produtos petrolíferos ajudaram a aliviar o país de sua demanda por gasolina por um curto período, mas novamente se formaram longas filas nos postos de gasolina e houve redução no número de locais de abastecimento.
A Argus Media, que monitora o mercado global de energia, informou que as reservas de gasolina armazenadas na refinaria Cardón estão no seu nível mais baixo, com apenas 15.140 barris com grau de octanagem 91 e 1.890 barris com grau de octanagem 95 disponíveis, de acordo com um relatório confidencial de 15 de julho da petrolífera estatal venezuelana PDVSA obtido pela Argus Media. Os reparos na refinaria Cardón com a ajuda do Irã “trouxeram poucos resultados até agora”, acrescentou a Argus Media.
Um incêndio e problemas mecânicos no dia 6 de julho na planta da Cardón atrasaram os planos para restaurar a produção de combustível, disse a Bloomberg. Víctor Clark, governador do estado de Falcón, onde fica a refinaria, disse que o incêndio foi rapidamente extinto; no entanto, duas fontes ligadas ao tema disseram à Reuters, em um artigo publicado no mesmo dia, que a produção de gasolina teria sido suspensa.
A produção de gasolina recomeçou na Cardón em meados de junho, com cerca de 30.000 barris por dia de gasolina de octanagem 91, disse a Argus Media, citando um relatório interno da PDVSA de 14 de junho, ao qual a agência teve acesso. No final de abril, o Irã entregou componentes e enviou técnicos e equipamentos pela companhia aérea estatal iraniana Mahan Air para ajudar a restabelecer a produção nas refinarias do país sul-americano.
No início de junho, o regime de Nicolás Maduro também pôs fim a décadas de preços subsidiados de combustível, apresentando um novo sistema de racionamento onde os preços da gasolina subiram para 5.000 bolívares por litro (US$ 0,02 na taxa cambial de 22 de julho) – um aumento substancial em relação ao preço anterior de 0,0006 bolívares por litro. Uma alternativa seria o pagamento de US$ 0,50 por litro em uns 200 postos de gasolina especialmente designados em todo o país. No dia 1º de maio, o regime aumentou o salário mínimo para 800.000 bolívares (US$ 3,5) mensais.
Com o aumento dos preços recentemente imposto sobre a gasolina e com a PDVSA aparentemente esgotando suas últimas gotas de combustível, novos protestos começaram a eclodir.
No dia 17 de julho, um jovem foi morto por um membro da Guarda Nacional Bolivariana durante um protesto contra a falta de gasolina em um vilarejo pesqueiro na Ilha de Toa, estado de Zulia, informaram ativistas de direitos humanos e representantes da Assembleia Nacional (AN). De acordo com o parlamentar da AN, Avilio Troconiz, a gasolina vendida durante o sistema de racionamento do governo não era suficiente para abastecer os barcos dos habitantes da ilha, que sobrevivem basicamente da pesca.
O estado de Zulia, no noroeste da Venezuela, faz fronteira com o lago Maracaibo, e sua bacia abriga as maiores reservas de petróleo e gás do hemisfério ocidental. O estado, que já foi próspero em petróleo, vem sendo afetado pelo colapso dos serviços públicos com frequentes apagões e falta crônica de combustível.
De acordo com a organização não governamental Observatório Venezuelano para Conflitos Sociais (OVCS), mais de 4.000 protestos ocorreram em todo o país desde o início de 2020 devido à falta de alimentos, gasolina e outras necessidades básicas. Centenas de pessoas foram feridas durante esses protestos e três delas, incluindo José Luis Albornoz, um jovem de 18 anos, habitante da Ilha de Toa, morreram em consequência da violência, segundo o OVCS.
“A narcotirania continua a matar venezuelanos inocentes que protestam contra a negligência e a miséria em que as [pessoas] corruptas tornaram a Venezuela”, disse via Facebook o parlamentar da AN Armando Armas. “Na Ilha de Toa, a repressão está se intensificando contra uma população indefesa.”