Diálogo conversou com o Almirante de Esquadra Fernando Pérez Arana, chefe do Estado-Maior da Defesa do Uruguai, durante a Conferência Sul-Americana de Defesa (SOUTHDEC, em inglês), realizada na cidade de Natal, Brasil, em agosto de 2019.
Diálogo: Quais são as suas metas imediatas como chefe do Estado-Maior da Defesa do Uruguai?
Almirante de Esquadra Fernando Pérez Arana, chefe do Estado-Maior da Defesa do Uruguai: Melhorar as capacidades de Comando, Controle, Vigilância, Inteligência e presença nos espaços aéreos, terrestres, marítimos e de ciberdefesa são algumas dessas metas.
Diálogo: Por que o Uruguai tem tradição de ajuda humanitária e de participação em missões de paz com a Organização das Nações Unidas?
Alte Esq Pérez: As Forças Armadas uruguaias estão comprometidas com a defesa e a proteção dos direitos humanos. O destacamento das forças armadas em operações de manutenção da paz tem sido uma constante da política exterior do Uruguai, demonstrando seu compromisso com a paz e a segurança internacional, no âmbito do direito internacional.
Além disso, em nível nacional, participamos do Sistema Nacional de Emergência; integramos esse sistema de forma permanente, junto com outras agências do Estado, constituindo a primeira resposta em apoio a todas as agências que atuam nos casos de emergências causadas por desastres naturais, como inundações, incêndios florestais ou atividades contaminantes nas áreas fluviais ou marítimas.
Diálogo: Não seria interessante ter um sistema regional ou hemisférico?
Alte Esq Pérez: Mantemos uma interação permanente entre a Força Aérea, o Exército Nacional e a Marinha Nacional, através de relações bilaterais com os países limítrofes e regionais. Por exemplo, participamos da Conferência de Exércitos Americanos, da Conferência Naval Interamericana e do Sistema de Cooperação das Forças Aéreas das Américas. O intercâmbio de experiências e coordenação evoluiu para um sistema de intercâmbio permanente de capacidades, para que as forças e os equipamentos de resposta em casos de emergência ou de assistência humanitária estejam sempre disponíveis. Tudo isso se transforma em desenvolvimento de protocolos e na participação em exercícios bilaterais e regionais, onde são treinadas e melhoradas as formas de emprego das capacidades de cada um para prestar ajuda oportuna ao estado que assim o necessite, em situações de assistência humanitária ou desastres naturais.
Diálogo: O senhor poderia citar exemplos de exercícios bilaterais que tiveram a participação do Uruguai?
Alte Esq Pérez: Por exemplo, o exercício Ceibo, com a Argentina, onde se planificam os efeitos de um cenário de desastre natural e ajudas mútuas em zonas de inundações; o exercício multilateral ACRUX, de proteção e apoio à hidrovia Paraná, no Paraguai; os exercícios RÍO e URUBRAS de controle aéreo entre as forças aéreas; o exercício ATLASUR, de vigilância do Atlântico Sul; o exercício de Intercâmbio de Informação de Fronteiras Terrestres, com o Exército do Brasil; e a operação PANAMAX, multinacional e interagencial.
Diálogo: Durante a SOUTHDEC se discutiu o que ocorreria no caso de uma mudança de regime na Venezuela, ou seja, uma ação conjunta de ajuda humanitária, inclusive com os EUA. O Uruguai participaria de um evento como esse?
Alte Esq Pérez: A coordenação e o planejamento do emprego das capacidades das forças armadas da região em ações de assistência humanitária permitiriam dar uma resposta adequada de uma forma oportuna, caso essa ajuda fosse solicitada por qualquer país da região. A Convenção Interamericana para facilitar a assistência em casos de desastres naturais e os acordos bilaterais entre os governos (assistido e assistente) são alguns dos instrumentos normativos que poderiam ser aplicados. A capacidade de assistência humanitária em qualquer parte da América do Sul já existe e a vontade das Forças Armadas do Uruguai é sempre solidária e sempre estarão dispostas a dar todo o apoio de que o governo possa dispor para contribuir para a estabilidade e a assistência humanitária necessária, respeitando o direito internacional.
Diálogo: Qual é a importância de participar de uma conferência como a SOUTHDEC?
Alte Esq Pérez: Manter atualizada a visão sobre a situação da região, através do intercâmbio entre os chefes dos Estados-Maiores de Defesa e dos Comandos Conjuntos das forças armadas, permite coordenar e desenvolver estratégias regionais diante das ameaças transnacionais.
Esses encontros permitem que conheçamos as diferenças e semelhanças que temos na aplicação das nossas competências em cada país ou em cada sub-região. Eles possibilitam desenvolver ou escolher os melhores canais, de acordo com o direito internacional, para dar uma solução oportuna diante de determinada circunstância de crise e assessorar nossos governos nos casos de dar ajuda e resposta rápida, sempre que outro país o solicitar.
Também contribuem para os compromissos de promoção de paz e para uma solução pacífica de controvérsias que nossos países adotaram nas Nações Unidas, na Organização dos Estados Americanos e nos acordos bilaterais, entre outros.