Do narcotráfico ao contrabando e às transferências de armas, os militares venezuelanos se aproveitam de sua situação de poder.
No dia 14 de novembro, o Ministério Público da Venezuela anunciou a decisão de acusar o General de Brigada da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) Aquiles Lapadula por sua suposta participação no desvio de 33.470 litros de ácido sulfúrico, uma substância utilizada para a fabricação de cocaína.
O processo contra o oficial começou no dia 9 de setembro, quando membros da GNB detiveram o motorista de um caminhão ao detectar uma discrepância nos documentos que ele portava para justificar o transporte da substância, assinados pelo próprio Gen Bda Lapadula.
O oficial havia sido nomeado em julho de 2019 por Nicolás Maduro para exercer o mais alto cargo militar do estado de Zulia. Agora, o Gen Bda Lapadula continua detido em uma cela da Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM), em Caracas.
José Luis Pirela, presidente da Subcomissão da Luta Antidrogas, Antiterrorismo e contra o Crime Organizado da Assembleia Nacional da Venezuela, garantiu que o caso desse oficial é “de extrema gravidade.”
No entanto, não se trata de um caso isolado, pois o envolvimento de militares em delitos é cada vez mais frequente. O tráfico de drogas é apenas uma das atividades ilegais das quais os militares participam.
“Em meus 30 anos de carreira, só soube de três oficiais processados por crimes de drogas. Agora, isso ocorre o tempo todo”, afirmou um general de brigada reformado que atuou na Direção de Inteligência Militar (precursora da DGCIM), durante a presidência de Hugo Chávez.
O oficial, que pediu anonimato por razões de segurança, lembrou que a partir de 2005 teve início um processo de expansão da participação de oficiais da ativa em áreas que não eram exclusivamente parte dos deveres militares, o que a ONG Transparência Internacional, capítulo Venezuela, denunciou como o controle quase absoluto por parte dos militares “dos processos civis da sociedade”.
Simultaneamente, acrescentou o ex-militar, o governo assumiu o poder judicial para garantir, entre outras coisas, que os crimes dos militares permanecessem impunes. Ele lembrou que no mesmo ano o presidente da Corte Marcial, o Coronel da GNB Eladio Aponte Aponte, assumiu a presidência da Divisão Criminal do Tribunal Supremo de Justiça. Antes de se refugiar nos Estados Unidos, em 2012, o Cel Aponte admitiu à imprensa haver emitido sentenças absolutórias em processos contra oficiais do Exército envolvidos no tráfico de drogas.
A certeza de que os crimes ficarão impunes estimulou a participação dos militares em atividades ilegais que incluem até o homicídio, disse o ex-militar.
No dia 18 de novembro de 2019, por exemplo, integrantes da GNB prenderam o 1º Tenente da GNB Ronald Noé Hernández Vega, por sua suposta participação no assassinato de um subtenente da instituição.
Luis Cedeño, diretor da ONG venezuelana Observatório do Crime Organizado, explicou que os militares se envolvem em delitos para os quais dispõem de maiores oportunidades, como consequência do controle que exercem sobre os diversos mercados, por decisão do governo.
“Os setores políticos no poder garantiram privilégios para a Força Armada Nacional em troca do apoio dos militares à revolução”, afirmou.
Cedeño acrescentou que as áreas onde isso ocorre com maior evidência são as de petróleo e mineração, distribuição de alimentos e outras mercadorias de consumo em massa e controle de armas.
“São feitas transferências permanentes de armas, munições e explosivos, como granadas. Tudo isso envolve as quadrilhas criminosas e faz parte da FANB [Força Armada Nacional Bolivariana]”, disse.
No dia 17 de setembro, por exemplo, agentes da Contrainteligência Militar detiveram três oficiais pelo roubo de 24.000 cartuchos para o fuzil AK-103. Os indivíduos haviam sido designados precisamente para resguardar o arsenal do componente aéreo da Academia Militar de Maracay.