Disciplina e trabalho foram os pilares com os quais o Tenente Brigadeiro do Ar (R) Eladio Casimiro González Aguilar, ex-comandante das Forças Militares do Paraguai, liderou suas tropas. Após quatro anos de mandato, desde outubro de 2018 até sua reserva, em 13 de outubro de 2022, o Ten Brig Ar González observa os frutos colhidos. Hoje, as Forças Militares trabalham sob as diretrizes de coordenação conjunta, combinada e interinstitucional, para enfrentar as ameaças comuns.
O Ten Brig Ar González conversou com Diálogo, antes de sua reserva, sobre os desafios das organizações criminosas transnacionais e os processos de modernização militar, entre outros temas.
Diálogo: O que há de novo para as Forças Militares em tarefas de restabelecimento da ordem interna, tais como a luta contra o crime transnacional, narcotráfico, descaminho, contrabando e tráfico de armas?
Tenente Brigadeiro do Ar (R) Eladio Casimiro González Aguilar, ex-comandante das Forças Militares do Paraguai: O combate aos crimes transnacionais representa um desafio permanente de adaptação, melhoria contínua das capacidades e otimização do treinamento, a fim de cumprir as missões adequadamente e sempre dentro da estrutura legal permitida. Há programas e projetos em andamento dentro das Forças Militares, que incluem revisões do marco regulatório e aquisição de material adequado para enfrentar as ameaças, mas, acima de tudo, foram fortalecidos os canais de cooperação com o Brasil, com o qual compartilhamos uma extensa fronteira fluvial e terrestre, em áreas que concentram as ameaças transnacionais mais perigosas e de alto impacto.
Diálogo: Como as Forças Militares contribuem para a luta regional contra as ameaças transfronteiriças?
Ten Brig Ar González: As Forças Militares do Paraguai, através das unidades do Exército, da Marinha e da Força Aérea, atuam contra as ameaças transfronteiriças, especialmente contra o tráfico de drogas e de armas, realizando, dentro de suas atribuições legais, patrulhas e intervenções contra as organizações de tráfico de drogas nos rios que fazem fronteira com o Brasil e a Argentina, bem como na detecção e operação contra o tráfico de drogas sob a forma de transporte aéreo, além de atuar nas fronteiras terrestres, principalmente com o Brasil, em operações conjuntas e combinadas para atacar a produção ilícita de maconha, destruir pistas de aterrissagem clandestinas, entre outras tarefas.
Todas as apreensões de drogas, a captura de membros de organizações criminosas, assim como as operações de erradicação de cultivos ilícitos de maconha dentro do território nacional, espaço aéreo e águas jurisdicionais, contribuem para reduzir a oferta de drogas, cujo principal mercado de destino são outros países limítrofes do Paraguai e também fora da região.
Diálogo: Por que é importante que as Forças Militares trabalhem de forma conjunta e combinada para enfrentar ameaças comuns, tais como as organizações criminosas transnacionais?
Ten Brig Ar González: A natureza da ameaça é complexa; os grupos criminosos aproveitam o terreno, as dificuldades de controle e muitas vezes as restrições aos órgãos de aplicação da lei que envolvem jurisdições ou fronteiras internacionais, tudo para obter vantagens para suas atividades ilícitas. Essas ações exigem uma resposta multidimensional e integral das Forças Militares, com operações conjuntas, amplo intercâmbio de informações e inteligência e coordenação internacional, através de operações combinadas para combater com eficiência os crimes transfronteiriços, especialmente no que diz respeito ao narcotráfico.
Um exemplo concreto foi a Operação Basalto, uma operação combinada entre Paraguai e Brasil e conjunta com a integração do Comando de Operações de Defesa Interna (CODI), onde participaram membros de combate do Exército, da Marinha e da Força Aérea, bem como interagências, pois envolveu o Ministério da Defesa, o Ministério do Interior, a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), a Polícia Nacional e a Unidade Interinstitucional de Combate ao Contrabando. A operação foi realizada simultaneamente com a Operação Ágata do Brasil. Essa operação foi lançada em 23 de julho [de 2022] por 10 dias, para combater os crimes transfronteiriços e ambientais. A Basalto produziu resultados históricos, como a apreensão e incineração de mais de 415.000 quilos de maconha ilegal pronta para o consumo, a detecção e destruição de quatro pistas de decolagem clandestinas utilizadas para o tráfico de cocaína por via aérea, a localização e destruição de 18 centros de processamento de maconha, 57 campos de armazenamento de drogas ilícitas, entre outras conquistas. A Basalto causou prejuízos econômicos às organizações criminosas estimados em mais de US$ 12.500.000 (considerando o valor da droga ao baixo preço de mercado no Paraguai).
Diálogo: Que novidades apresenta o CODI em termos de operações de interdição para combater os narcóticos em apoio à SENAD?
Ten Brig Ar González: O CODI, em seu modelo de organização e trabalho conjunto e interinstitucional, é um exemplo de sucesso em todos os sentidos. A soma da contribuição das diferentes capacidades das Forças Militares, associadas ao uso correto da inteligência da SENAD sobre os grupos criminosos dedicados ao narcotráfico, levou a uma melhoria substancial na eficiência da interdição de drogas ilícitas nas águas, no espaço aéreo e no território paraguaio.
De 2019 até a primeira semana de setembro de 2022, mais de 17.430.000 kg de maconha ilegal foram impedidos de chegar aos mercados regionais de consumo, assim como 3.557 kg de cocaína, além de aeronaves, veículos e bens apreendidos de organizações criminosas, causando-lhes danos de mais de US$ 571 milhões nesse período.
Diálogo: Qual é o papel das Forças Militares em termos de segurança ambiental?
Ten Brig Ar González: As Forças Militares do Paraguai criaram unidades especializadas para lidar com questões ambientais dentro de sua área de responsabilidade e para possíveis contingências, sob o nome de Capacetes Verdes, que atuam principalmente ao lado da autoridade nacional do meio ambiente, como é o Ministério do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (MADES), apoiando suas atividades de controle e fiscalização em parques nacionais e áreas ambientais protegidas. Também é importante entender que ao executar as operações de erradicação das plantações ilícitas de maconha, também estamos agindo para proteger o meio ambiente, já que a maioria das plantações ilícitas se encontram dentro de áreas ambientais (reservas florestais) protegidas por lei (privadas e públicas), o que é uma importante causa de desmatamento de nossa floresta nativa. Também estamos trabalhando para conscientizar o pessoal destacado nas diferentes unidades do país, para que se tornem controladores e multiplicadores do cuidado e da proteção do meio ambiente.
Diálogo: Que progressos foram feitos na área da integração de gênero?
Ten Brig Ar González: Atualmente, a inclusão de pessoal feminino nas atividades das Forças Militares é total e representa um fator-chave para sua modernização e profissionalização. As Forças Militares têm promovido um projeto de regulamento a fim de buscar a igualdade de oportunidades, proteção à maternidade, apoio à amamentação, mitigação da desigualdade e discriminação da violência de gênero, entre outros aspectos.
Hoje fornecemos treinamento e aconselhamento para o desenvolvimento profissional em condições de igualdade para homens e mulheres. As mulheres estão sendo aceitas em escolas de formação, treinamento e capacitação e estão preenchendo funções e cargos de acordo com suas patentes e capacidades. Da mesma forma, aumentamos o destacamento de pessoal feminino (oficiais e graduados) em missões de paz, sob o mandato das Nações Unidas, e várias foram enviadas em viagens de estudo ao exterior.
Diálogo: Que progressos estão sendo feitos no plano para melhorar as capacidades de defesa das Forças Militares?
Ten Brig Ar González: Estamos desenvolvendo nosso “Plano de Transformação e Modernização Tesareko Mombyry 2022-2052”, com o objetivo de estabelecer um instrumento estratégico para modernizar a instituição, otimizar a gestão e fazer inovações na estrutura organizacional, nos recursos humanos, na doutrina e nos meios e infraestruturas.