O Comandante Belsio González, diretor-geral do Serviço Nacional Aeronaval (SENAN, em espanhol) do Panamá*, foi anfitrião, pela primeira vez, da LVIII Conferência de Chefes das Forças Aéreas Americanas (CONJEFAMER, em espanhol). A conferência foi realizada na Cidade do Panamá, Panamá, entre os dias 19 e 21 de junho de 2018.
Em seu discurso de inauguração, o Comandante González deu as boas-vindas aos chefes e aos representantes das forças aéreas e se mostrou otimista quanto aos avanços da CONJEFAMER para promover os esforços de cooperação que fomentem a ajuda em desastres, a ajuda humanitária e o desmantelamento das redes de ameaças transnacionais. O Comte González falou à Diálogo sobre a importância de ser o anfitrião do evento e sobre os avanços estratégicos do SENAN para desenvolver suas capacidades, entre outros assuntos.
Diálogo: Qual é a importância do fato do Panamá e do SENAN serem os anfitriões da CONJEFAMER?
Comandante Belsio González, diretor-geral do Serviço Nacional Aeronaval do Panamá: Para o nosso país e para o SENAN, é importante ser o anfitrião da CONJEFAMER, porque vimos tentando sediar esse evento desde 2000 e, após 18 anos, podemos dizer que realizamos esse sonho. É importante porque isso nos permite compartilhar os conhecimentos e as experiências com os comandantes das diversas forças aéreas do continente. É essencial que essas reuniões sejam realizadas dentro do círculo do Sistema de Cooperação das Forças Aéreas Americanas (SICOFAA), já que a CONJEFAMER é o fórum onde intercambiamos opiniões e experiências e compartilhamos parte da cultura de outros países.
Diálogo: Por que é importante que o Panamá pertença à SICOFAA? Quais são os benefícios disso?
Comte González: O Panamá entrou no SICOFAA em 1970 e desde então já formamos e treinamos pilotos aviadores e técnicos de manutenção de aeronaves através dos programas de ajuda mútua entre os países membros do SICOFAA. Como membro do SICOFAA, o Panamá teve a oportunidade de ver como esse organismo é importante em termos de ajuda humanitária na ocorrência de desastres naturais ou causados pelo homem, quando participamos ativamente dessas operações humanitárias, pois estivemos nos terremotos do Equador e do México e nas enchentes da Costa Rica. Espero que o Panamá nunca seja atingido por um desastre natural mas, se isso acontecer, podemos solicitar o apoio de nossas forças aéreas parceiras.
Diálogo: O SENAN completa 10 anos em agosto de 2018. Como a organização já cresceu desde então?
Comte González: O SENAN foi criado no dia 20 de agosto de 2008, quando o Serviço Marítimo Nacional e o Serviço Aéreo Nacional se fundiram. Ao longo desses 10 anos, o crescimento sustentável dessa instituição tem sido relevante e importante, devido ao treinamento de nossas unidades, às relações de amizade que mantemos com as diversas forças aéreas do continente e à aquisição de equipamentos. Nesse período de quatro anos sob a liderança de nosso presidente Juan Carlos Varela Rodríguez, os equipamentos operacionais foram reforçados na parte naval e na parte aérea da organização. Adquirimos dois aviões Twin Otter-400 e em breve vamos adquirir um avião de patrulhamento marítimo que virá reforçar nossas ações na luta contra o narcotráfico.
Diálogo: O SENAN aumentou suas tarefas de patrulhamento e controle do tráfico marítimo ilícito. Como essa estratégia contribui para reduzir as ações das organizações criminosas transnacionais dedicadas ao narcotráfico?
Comte González: O direcionamento estratégico operacional que vimos praticando desde 2008 já golpeou duramente as organizações criminosas transnacionais e os narcoterroristas que se dedicam ao tráfico ilícito de drogas por nossos mares do Caribe e do Pacífico. O alistamento, o treinamento e a capacitação que recebemos, especificamente por parte dos Estados Unidos, nos beneficiaram e produziram frutos certeiros, porque com cada golpe que desferimos contra essas organizações criminosas, reduzimos sua capacidade financeira e logística. Outra estratégia é a política nacional para reduzir os homicídios, o que é feito através de um trabalho árduo dos colaboradores de segurança como a Polícia Nacional, o Serviço Nacional de Fronteiras (SENAFRONT) e nossa instituição.
Realizamos diversas operações em uma Força-Tarefa Conjunta. É dessa maneira que realizamos operações tais como Pátria, Escudo, Darién e, em breve, a operação Tridente II, tudo isso com o apoio da Marinha Nacional da Colômbia e do Serviço Nacional da Guarda Costeira dos Estados Unidos, que se juntam a nós com todos os componentes de nossa força pública, como a Polícia Nacional (PN) e o SENAFRONT.
Diálogo: Os Estados Unidos doaram equipamentos navais e tecnológicos ao SENAN, entre os quais se destacam dois botes interceptores que permitem aumentar a capacitação operacional da Unidade de Botes Especiais do Panamá em suas ações contra o tráfico ilícito de drogas. Como essa doação ajuda a combater as drogas no Panamá?
Comte González: Esses dois interceptores aumentaram nossa capacidade, permitindo um alcance maior de milhas náuticas em nossos mares, já que isso é importante quando realizamos perseguições a uma distância de mais de 100 milhas náuticas. Devido à sua capacidade, autonomia e rapidez, esses dois interceptores já nos permitiram desferir duros golpes contra o narcotráfico. Em dezembro ou em janeiro do próximo ano receberemos mais duas lanchas.
Diálogo: O programa Pescadores Vigilantes do SENAN faz parte da estratégia de Segurança Nacional 2017-2030. Como esse programa ajuda a melhorar os níveis de segurança na costa e nos mares panamenhos?
Comte González: Esse programa foi criado porque víamos que muitas lanchas que se dedicavam à pesca artesanal eram utilizadas para o transporte de drogas. Idealizamos esse programa – que é semelhante ao programa Vizinhos Vigilantes da PN – e decidimos realizar um grande censo para registrar os pescadores, para conhecê-los e para que eles sentissem a mão amiga do Estado. Esse censo nos permitiu consolidar um banco de dados. Registramos mais de 10.000 pessoas que se dedicam à pesca e coordenamos ações com a Autoridade Marítima do Panamá para que os pescadores legalizem suas permissões de navegação e as licenças de seus barcos. Esse programa nos possibilitou realizar programas sociais e oferecer palestras de prevenção para que os pescadores tomem conhecimento do narcotráfico e de suas ameaças.
Diálogo: Como o SENAN se prepara para a ajuda humanitária e para a assistência em desastres naturais?
Comte González: A ajuda humanitária e a assistência em desastres naturais são o segundo pilar mais importante do SENAN. Recentemente adquirimos uma barcaça que fará trabalhos de ajuda humanitária e assistência médica. A barcaça é capaz de fornecer água potável – visto que tem uma dessalinizadora – e de produzir eletricidade durante uma possível calamidade. Em 2018 realizamos mais de 170 operações de ajuda humanitária.
Diálogo: Qual é a importância da cooperação internacional para derrotar as organizações criminosas transnacionais?
Comte González: É fundamental fortalecer a confiança dos organismos dedicados à missão de combater o narcotráfico. A ajuda oferecida pelos governos dos Estados Unidos, da Colômbia e da Costa Rica é essencial para as alianças de intercâmbio de informações, de comunicação e da confiança mútua que realizamos e que têm dado resultados positivos para evitar o trânsito de narcotraficantes por nossas águas.
O Panamá já é capaz de oferecer treinamentos às forças aéreas parceiras e continuamos a crescer para aperfeiçoar nossos aviadores. Hoje em dia é vital que as forças aéreas mantenham essa comunicação ativa para beneficiar mutuamente nossas instituições e fortalecer a segurança de nossos aviões e de nossas missões.
*O Comte González se reformou em julho de 2018, duas semanas depois de sua entrevista à Diálogo.