O General de Exército James Dickinson, do Exército dos EUA, comandante do Comando Espacial dos EUA (USSPACECOM) está comprometido com várias linhas de esforço à medida que o comando alcança sua plena capacidade operacional, incluindo fortalecer as relações, atrair novos parceiros, e construir e manter uma vantagem competitiva.
O Gen Ex Dickinson falou com Diálogo sobre a sua parceria com nações dentro da área de responsabilidade do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM), e os desafios de segurança que todos eles enfrentam no domínio espacial.
Diálogo: Quais são as principais capacidades que o Comando Espacial dos EUA compartilha com as nações parceiras do Comando Sul dos EUA?
General de Exército James Dickinson, do Exército dos EUA, comandante do Comando Espacial dos EUA: As capacidades espaciais do Comando Espacial dos EUA apoiam diferentes missões através de todos os comandos combatentes, para contribuir para os nossos objetivos políticos. As principais capacidades que o Comando Espacial dos EUA pode compartilhar com as nações parceiras nas Américas incluem comunicações por satélite (SATCOM, em inglês), Posicionamento, Navegação & Cronometragem (PNT, em inglês), Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR, em inglês), e monitoramento do tempo. Essas capacidades podem apoiar diretamente os esforços das nações parceiras do SOUTHCOM no combate ao crime, desde o tráfico de drogas até a pesca ilegal e ao desmatamento.
O SOUTHCOM e a Comunidade de Inteligência estão atualmente melhor posicionados para coordenar com as nossas nações parceiras nas Américas, para discutir o apoio aos esforços de interdição de drogas. Dito isto, o SOUTHCOM está expandindo o seu envolvimento militar espacial nas Américas para trazer mais capacidade às nossas nações parceiras. Uma Equipe Espacial Integrada Conjunta (JIST, em inglês) estabelecida pelo USSPACECOM integra o SOUTHCOM para coordenar o seu apoio. O SOUTHCOM também anunciou planos para ter um componente espacial no sul em algum momento.
As capacidades espaciais também podem apoiar os esforços das nações parceiras do SOUTHCOM que lidam com a pesca ilegal. Por exemplo, o SOUTHCOM já está trabalhando no sentido de aumentar o intercâmbio de informação baseada no espaço, para melhorar a conscientização dos nossos parceiros para as atividades nas suas Zonas Económicas Exclusivas (ZEEs). Isso está ajudando a combater ameaças como a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada da República Popular da China, que está esgotando os estoques regionais essenciais para a subsistência dos pescadores.
Diálogo: A tecnologia baseada no espaço pode contribuir para todas as fases do ciclo de gestão de catástrofes, incluindo a prevenção, a preparação, o alerta precoce, a resposta e a reconstrução. Como poderiam as nações parceiras do SOUTHCOM melhorar a sua capacidade de prever catástrofes, fornecer alertas precoces e responder rapidamente?
Gen Ex Dickinson: A sociedade depende das capacidades espaciais e esperamos que esses serviços baseados no espaço, como a meteorologia e sistemas de posicionamento global, estejam imediatamente disponíveis para nós. E, embora o espaço desempenhe um papel vital na nossa segurança nacional, o acesso à tecnologia baseada no espaço tem um efeito profundo na vida quotidiana das pessoas em todo o mundo. A tecnologia baseada no espaço, como o Programa de Satélite Meteorológico de Defesa (DMSP, em inglês) pode apoiar observações climáticas e meteorológicas, e fornecer dados ambientais globais que podem ser utilizados para uma variedade de fins, incluindo a identificação de áreas que necessitam de assistência humanitária.
Na resposta ao terremoto no Haiti em 2021, os Estados Unidos e seus parceiros conseguiram tirar partido das imagens espaciais para avaliar os danos e dirigir melhor a assistência humanitária, o que acabou por salvar centenas de vidas.
O SOUTHCOM foi uma parte importante da resposta imediata, fornecendo apoio logístico facilitado por essas imagens baseadas no espaço. O mesmo ocorreu com os desastres ambientais, como os derrames de petróleo no Peru este ano e no Brasil em 2019. As imagens de satélite forneceram os melhores e mais rápidos meios para avaliar a extensão dos derrames e, no caso do Brasil, para identificar a fonte. Se estivermos falando de derrames, desmatamento, crimes ambientais, incêndios e outros, as tecnologias espaciais têm o potencial de transformar a forma como os países respondem e se preparam para desastres e salvar vidas preciosas.
É por isso que a cooperação entre os nossos parceiros e aliados é uma parte tão crucial da missão do Comando Espacial. O mundo está cada vez mais dependente das capacidades baseadas no espaço e a salvaguarda do acesso a essas capacidades nunca foi tão imperativa. Devemos continuar reforçando nossas alianças e parcerias com a comunidade internacional, a indústria comercial, e todo o governo, para assegurar que os nossos interesses comuns estejam protegidos.
Diálogo: O SOUTHCOM tem relações espaciais com Brasil, Colômbia, Chile e Peru. Como estão funcionando essas parcerias? Que tipo de operações espaciais combinadas entre os Estados Unidos e o SOUTHCOM poderiam reforçar a garantia da missão e a eficácia militar?
Gen Ex Dickinson: O programa de cooperação de segurança do USSPACECOM assiste as nações parceiras no desenvolvimento das suas capacidades e aptidões espaciais. Este programa, através da coordenação com o SOUTHCOM, está facilitando o crescimento e desenvolvimento mensuráveis das capacidades militares espaciais do Brasil, Chile, Colômbia e Peru.
No ano passado, como parte da série de campanhas Global Sentinel, o USSPACECOM expandiu parcerias através da cooperação direta com mais de 20 parceiros internacionais, para apoiar a conscientização do domínio espacial compartilhado e reforçar a expertise em operações espaciais a nível internacional, várias delas na América Latina.
A parceria entre o USSPACECOM e o Chile é um grande exemplo do nosso objetivo a longo prazo: uma rede poderosa e globalmente integrada que monitora continuamente o domínio espacial, em busca de ameaças às tecnologias de que todos nós dependemos na nossa vida quotidiana. Recentemente, a Força-Tarefa Conjunta de Defesa Espacial (JTF-SD, em inglês) do USSPACECOM, as Forças Aéreas do Sul, e a Força Aérea do Chile completaram a série de Treinamento de Conceito Avançado Sprint, que consiste em lançamentos simulados e eventos de rastreio, a fim de construir a nossa capacidade conjunta para proteger os bens baseados no espaço.
Além das oportunidades de treinamento em conjunto, o programa de intercâmbio de dados de sensores do USSPACECOM integra agências governamentais e aliados, parceiros da indústria comercial e instituições acadêmicas no rastreio e relato de atividades espaciais.
Essas operações de cooperação não só ampliam a nossa consciência coletiva do domínio espacial, mas também projetam uma frente unida contra adversários que ameaçam um domínio espacial seguro, protegido e sustentável. As atividades espaciais beneficiam a humanidade e precisamos dissuadir coletivamente os atos hostis que ameaçam a sua estabilidades.
O objetivo a longo prazo é conduzir operações integradas com aliados e parceiros para monitorar e defender coletivamente o domínio espacial das ameaças. A realização de operações integradas com os nossos aliados e parceiros são elementos centrais para assegurar a proteção do espaço para o futuro. Além disso, as nossas alianças e parcerias reforçam a dissuasão integrada para, assim o esperamos, evitar que os conflitos se estendam ao espaço.
Diálogo: Que tipo de cooperação e coordenação para as oportunidades de investigação e desenvolvimento espacial tem o USSPACECOM com as nações parceiras do SOUTHCOM?
Gen Ex Dickinson: Em todo o mundo, as entidades dos setores privado e público reconhecem que um domínio espacial livre faz avançar a segurança de uma nação e promove a prosperidade económica e a inovação. O Chile se une ao Brasil, Peru, e outras 26 nações, duas organizações intergovernamentais e mais de 100 fornecedores de serviços comerciais via satélite, que compartilham um compromisso de comportamento responsável e seguro através da participação no Acordo de Intercâmbio de Dados para o Conhecimento da Situação Espacial (SSA, em inglês). Esse grupo troca informações públicas para localizar destroços espaciais e mitigar o risco de colisões, promovendo uma utilização mais segura do espaço para todos.
A participação dos militares dos EUA na feira internacional do ar e espaço do Chile, também conhecida como Feria Internacional del Aire y del Espacio (FIDAE), reafirma ainda mais o nosso compromisso de participar de um comportamento espacial responsável junto a nossos aliados e parceiros. Ao lado de países de todo o mundo, o Laboratório de Investigação da Força Aérea dos EUA realiza uma investigação na América do Sul para defender uma boa administração no ambiente espacial e trabalhar com os nossos parceiros sul-americanos para desenvolver a integração espacial nas suas operações civis e militares.
Diálogo: Que tipo de envolvimento/exercício multilateral entre o USSPACECOM e o SOUTHCOM tiveram/terão lugar para solidificar os esforços no domínio espacial? Em novembro de 2020, o USSPACECOM e o SOUTHCOM organizaram uma Conferência Espacial Virtual das Américas que constituiu uma grande oportunidade para os nossos parceiros espaciais mais ativos – Brasil, Chile, Colômbia e Peru –, discutirem formas de trabalharmos todos juntos para atingirmos objetivos comuns no espaço. O senhor tem planos para sediar um novo e maior evento?
Gen Ex Dickinson: A participação do Comando Espacial dos EUA no FIDAE 22 é apenas uma forma das nossas forças dos EUA trabalharem em conjunto com as nossas nações parceiras para promover interesses mútuos de segurança e estabilidade dentro do domínio espacial. A proteção do domínio espacial deve ser inerente a todas as nações que se dedicam à exploração do espaço. Através de exercícios como o Sentinela Global do Comando Espacial dos EUA, somos capazes de trabalhar com parceiros que têm acordos de intercâmbio SSA com os Estados Unidos para aprender a trabalhar em conjunto, para identificar e enfrentar ameaças no domínio espacial. À medida que o domínio espacial se torna mais congestionado, contestado e competitivo, é essencial trabalhar em conjunto com aliados e parceiros para assegurar que o espaço permanece seguro para operar para todos.
No ano passado, em coordenação com o SOUTHCOM, implementamos a nossa primeira iniciativa de cooperação em matéria de segurança “centrada no espaço”, com foco na criação de capacidades institucionais com aliados e parceiros. Essa iniciativa fornece fundos para ajudar os nossos parceiros a criar a capacidade para executar operações espaciais. Além disso, o USSPACECOM está empenhado em trabalhar com aliados e parceiros no que diz respeito ao intercâmbio de dados SSA. Coletivamente, esses dados irão além do mero rastreio de objetos espaciais, para uma conscientização situacional, a uma consciência colectiva do domínio espacial que identifica, rastreia e caracteriza as ameaças espaciais.
Planejamos realizar uma segunda Conferência Espacial Virtual das Américas no final de 2022, onde esperamos incluir parceiros adicionais em toda a região.
Diálogo: Quais são os maiores desafios para a AOR do SOUTHCOM em termos do domínio espacial?
Gen Ex Dickinson: A maioria dos países aspira estabelecer ou expandir as suas capacidades espaciais; no entanto, a maior barreira à entrada para qualquer nação é o custo de desenvolvimento e operação de um programa espacial nacional. Os Estados Unidos estão comprometidos em incentivar a utilização pacífica do espaço para todos no mundo inteiro e procurarão oportunidades para ajudar ou estabelecer parcerias com países que estejam melhorando os seus sistemas espaciais. Envolvemo-nos em parcerias que estão enraizadas no valor comum de um comportamento responsável, transparente e seguro, evitando que outros países explorem uma nação anfitriã em seu próprio proveito. As parcerias dos EUA facilitam o desenvolvimento de capacidades espaciais sustentáveis que beneficiam os nossos parceiros e aproveitam a utilização do espaço para enfrentar desafios comuns e prementes, preservando ao mesmo tempo os benefícios do espaço para as gerações atuais e futuras.
Diálogo: O que ganha o Chile ao estabelecer uma parceria com o USSPACECOM?
Gen Ex Dickinson: O Chile é uma fonte de liderança espacial dentro da região e o USSPACECOM está entusiasmado por trabalhar ao seu lado à medida que expandem as suas capacidades espaciais. Tanto o Chile como os Estados Unidos compreendem que o espaço é vital para a segurança do nosso povo e que todas as nações do mundo podem beneficiar da utilização segura e pacífica do espaço. Os planos do Chile de aumentar rapidamente as suas capacidades no espaço para satisfazer as suas necessidades nacionais de segurança, econômicas e científicas são ambiciosos, e os Estados Unidos estão entusiasmados em estabelecer uma parceria com o Chile para ajudá-los a atingir os seus objetivos, tal como nós estamos com outros parceiros na região. O USSPACECOM está empenhado em ajudar o Chile a desenvolver o seu programa espacial nacional de uma forma aberta e transparente, através da cooperação, colaboração e confiança mútua, com a esperança de que seremos parceiros fortes durante os próximos anos.