O General de Exército Jorge León González Parra, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Militares da Colômbia, falou com Diálogo durante sua visita oficial ao Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM), em Miami. Durante a entrevista, o Gen Ex González falou sobre os avanços na luta da Colômbia contra as organizações criminosas, os intercâmbios de especialistas em matéria de capacidades de informação e a importância da cidadania na segurança nacional.
Diálogo: Que resultados as Forças Militares da Colômbia estão obtendo na luta contra as organizações criminosas transnacionais, especialmente o narcotráfico?
General de Exército Jorge León González Parra, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Militares da Colômbia: Tivemos resultados históricos em 2021, que nenhum outro governo jamais teve. Temos várias linhas de ação para combater o narcotráfico, como a erradicação; no ano passado, a meta de erradicação foi de 103.000 hectares e em 2020 foi de 130.000 hectares, e nós a atingimos; e, para este ano, a meta é de 100.000 hectares.
Também temos atacado toda a cadeia de valor do narcotráfico, que vai desde o plantio até a comercialização, o que tem nos dado resultados muito positivos. Apreendemos insumos líquidos e sólidos, que são usados para produzir a pasta base de coca e o cloridrato de cocaína, e nossa inteligência está focada na localização de laboratórios de cloridrato de cocaína. Em 2021, mais de 5.700 laboratórios foram destruídos e mais de 600 toneladas de cocaína foram apreendidas, um número histórico na Colômbia. Também realizamos duas campanhas regionais que nos ajudaram muito a reduzir os rendimentos econômicos dessas economias ilícitas: as campanhas Orion e Zeus. A Orion é liderada pela Marinha da Colômbia, que começou em 2018 com oito países, oito instituições; e, em 2021, terminamos com 40 países, 102 instituições e alguns países da Europa. No ano passado, por exemplo, apreendemos 262 toneladas de cloridrato de cocaína na campanha Orion. Por sua vez, a estratégia Zeus, que iniciou suas operações em 2019 e é liderada pela Força Aérea Colombiana, fez acordos de interdição com cinco países da região, para detectar traços ilegais, afetando 48 aeronaves, com 38 pistas neutralizadas, quatro aeronaves imobilizadas e 22 toneladas de cocaína apreendidas. Com relação aos grupos armados organizados, mais de 5.000 de seus membros foram neutralizados em 2021, incluindo capturas, submissões, desmobilizações e mortes durante as operações militares, sendo dada prioridade às capturas (4.748).
Diálogo: Que iniciativas de trabalho conjunto e combinado as Forças Militares da Colômbia estão realizando através do Estado-Maior Conjunto, para combater essas organizações criminosas?
Gen Ex González: Uma das políticas do governo do presidente [Iván] Duque tem sido fortalecer as operações conjuntas, entre as forças militares e em coordenação com a polícia nacional, e as operações interinstitucionais com a Procuradoria Geral da nação, porque nos permite processar os criminosos que pertencem a estas organizações. Esta política de trabalho conjunto nos garantiu maior sucesso, porque esses esforços individuais que fazíamos no passado eram muito dispersos; quando trabalhamos juntos para planejar e executar as operações, otimizamos os esforços e capacidades para golpear de maneira mais eficaz e contundente essas organizações terroristas.
Em termos de iniciativas de trabalho conjunto, temos a Campanha Orión e a estratégia Zeus já explicadas na pergunta anterior, além e através da diplomacia para a defesa baseada no diálogo e na cooperação multilateral, através de mecanismos de fomento à confiança, como as palestras de altos comandantes, as Comissões Binacionais de Fronteira e reuniões de comandantes de fronteira regionais, entre outros, que são lideradas pelo Estado-Maior Conjunto.
Diálogo: O SOUTHCOM realizou intercâmbios de especialistas em capacidades de informação com as Forças Militares da Colômbia. O senhor considera que esses intercâmbios fortalecem as capacidades das forças militares?
Gen Ex González: Tínhamos esforços dispersos entre diferentes dependências, mas nos últimos dois anos o SOUTHCOM e a Guarda Nacional da Carolina do Sul têm nos aconselhado, para fortalecer essa capacidade nas operações de informação e poder combater a desinformação. Percebemos em 2021, com a manifestação pública pacífica que terminou no final do dia em violentos tumultos, destruindo a propriedade pública e privada, que mensagens falsas foram colocadas para deslegitimar as Forças Públicas em suas ações e influenciar a imaginação coletiva da comunidade nacional e internacional, gerando percepções enganosas da ingovernabilidade; e, com as limitadas capacidades de informação de que dispomos, fomos capazes de avançar dizendo a verdade, não como alguns setores da sociedade a estavam deturpando. Estamos atualmente implementando o centro de capacidades conjuntas de operações de informação, o que nos permitirá precisamente agir contra essas falsas notícias.

Diálogo: Que novos acordos de cooperação estão realizando as Forças Militares da Colômbia com seus homólogos dos EUA?
Gen Ex González: Temos uma cooperação, sobretudo em intercâmbios de informações e inteligência, para enfrentar a pior ameaça: o “narcotráfico”; porque o problema das drogas na Colômbia não é apenas um problema nacional, mas um problema mundial, e é aqui que a Colômbia tem trabalhado duro com o apoio dos Estados Unidos, e a integração de outros países que estão interessados em combater essa ameaça transnacional que gera violência, corrupção, uma cultura de ilegalidade, deslocamento forçado e afeta a coexistência saudável. Temos também o Plano de Ação Conjunta de Segurança Regional, que está em constante revisão e que nos permite fortalecer as capacidades militares para consolidar a segurança não apenas na Colômbia, mas na região.
Hoje, 27 de janeiro [de 2022], no final dos diálogos bilaterais, foi assinado um compromisso histórico de cooperação, um Memorando de Entendimento entre o SOUTHCOM e o Comando Geral das Forças Militares da Colômbia, que contém os eixos da segurança regional, as ameaças emergentes e as operações cibernéticas e de informação, cujo objetivo é fortalecer os esforços de segurança e defesa para combater as ameaças comuns.
Diálogo: Quais são as ameaças provenientes da Venezuela, incluindo o fluxo crescente do narcotráfico, que afetam a estabilidade e a segurança na Colômbia?
Gen Ex González: Infelizmente, não existem relações diplomáticas, comerciais ou militares com a Venezuela, o que torna esta luta difícil para nós, porque geralmente com nossos vizinhos, geramos uma sinergia que nos permite enfrentar as ameaças. O regime venezuelano permite a presença de grupos armados organizados e os protege em seu território; por exemplo, o ELN [Exército de Libertação Nacional] tem 23 por cento de seus membros e o grupo armado organizado residual das extintas FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] tem 18 por cento de seus integrantes na Venezuela, e de lá planejam ações criminosas para realizá-las na Colômbia. No entanto, temos uma estratégia para enfrentar essa ameaça. Mas o que está acontecendo hoje é o confronto entre esses grupos para dominar as rotas do narcotráfico e assumir o negócio, gerando assassinatos, deslocamentos e muita ansiedade entre a comunidade fronteiriça.
Diálogo: Que progressos as Forças Militares da Colômbia fizeram quanto à questão do gênero?
Gen Ex González: Em 2021, criamos escritórios de gênero no Comando Geral das Forças Militares e em cada uma das forças. Emitimos políticas para as forças, para fortalecer a inclusão das mulheres nas fileiras militares, e protocolos para a prevenção e resposta à violência sexual. Acredito que as mulheres estão muito bem posicionadas, têm as mesmas oportunidades que os homens, porque são promovidas da mesma forma que nós e têm as mesmas patentes; e, se falamos de rendimentos, elas ganham por patente, da mesma forma que os homens.
Aqui não há nenhuma diferença. Temos duas modalidades ou duas linhas onde elas entram, que são as do corpo administrativo, as quais são profissionais que entram para trabalhar em cada uma de suas áreas; e temos as que que estão em cursos regulares, que são de três e quatro anos, em algumas escolas de formação, que são projetadas para serem comandantes e futuras generais das forças militares. Hoje em dia existem duas generais, uma que é médica e outra que é advogada.
Diálogo: Qual é a contribuição do recém-criado Comando contra o Narcotráfico e as Ameaças Transnacionais (CONAT) para o esforço nacional na luta contra o narcotráfico?
Gen Ex González: Essa é uma capacidade que foi reforçada no Exército. O CONAT está organizado em cinco brigadas: a Brigada contra a Exploração Ilegal de Depósitos Minerais, porque os criminosos viram outra forma de obter recursos em detrimento do meio ambiente; eles também têm a Força de Destacamento contra Ameaças Transnacionais, que tem a capacidade de operações de forças especiais para neutralizar as estruturas de grupos armados organizados; e três Brigadas contra o Narcotráfico, que atacam toda a cadeia de valor do tráfico de drogas. Esse esforço tem sido muito importante para a luta contra o narcotráfico e para a proteção do meio ambiente na Colômbia.
Diálogo: Como podemos consolidar uma cultura cidadã de denúncia a fim de proporcionar maior segurança?
Gen Ex González: As informações fornecidas pelos cidadãos são muito importantes para nós, pois nos permitem focalizar nossas operações. Temos a rede de participação cívica ordenada pelo governo do presidente Duque, na qual contamos com os cidadãos para nos alertar com informações específicas, e assim antecipar as ações criminosas e terroristas dessas organizações criminosas em muitos setores do país. Como criar confiança para que a comunidade nos forneça informações? Uma delas é agir de forma oportuna e eficiente em nossas operações, para que eles [os cidadãos] também vejam que o sistema de justiça está agindo para identificar, processar e capturar os bandidos. Essa relação entre a comunidade e as Forças Militares está nos ajudando muito a obter resultados importantes.