Embora mais de 74.000 integrantes das Forças Armadas do Chile e dos Carabineiros (polícia nacional) tenham sido destacados em todas as partes do país para responder à crise da COVID-19, como declarou o ministro da Defesa do Chile, Alberto Espina Otero, em uma entrevista coletiva em meados de abril, as forças de segurança continuam combatendo o crime organizado transnacional.
Desde que entraram em vigor as medidas impostas pelo governo para evitar a propagação do vírus, as Forças Armadas assumiram um papel mais proeminente no controle das fronteiras com Argentina, Chile e Peru, apoiando assim as forças policiais na luta contra o narcotráfico.
“A Marinha, na zona costeira, e o Exército, nas vias terrestres, estão resguardando os mais de 100 quilômetros de fronteira terrestre que nos separam do Peru, com capacidades que as polícias não tinham anteriormente”, disse à Diálogo o General de Brigada do Exército do Chile Luis Cuellar Loyola, chefe regional da Defesa para a zona de Arica e Parinacota, na fronteira com o Peru.
O Gen Bda Cuellar destaca que embora o objetivo da sua liderança não seja a perseguição aos narcotraficantes, foi possível deter atividades ilegais conexas. “Essa zona do país é muito porosa por suas características geográficas […]; utilizamos veículos especializados e equipamentos avançados de visão noturna, o que nos permitiu detectar imigrantes ilegais e também o narcotráfico”, disse o oficial.
De acordo com um estudo da Polícia de Investigações do Chile (PDI), compartilhado com o jornal chileno La Tercera, o negócio das drogas continua em movimento e o crime organizado demonstrou sua criatividade. Por exemplo, a Chefatura Nacional Antinarcóticos e Contra o Crime Organizado (JENANCO, em espanhol) da PDI informou ao jornal que as quadrilhas criminosas procuraram se aproximar dos motoristas de caminhões, que fazem parte da cadeia de fornecimento, para transportar e distribuir as drogas.
“As quadrilhas criminosas se aproveitam dos motoristas de caminhões […] para fazer circular a droga oculta nos veículos […] e os convencem de que nada lhes acontecerá porque eles não têm histórico criminal. É um incentivo perverso”, explicou à Diálogo Guillermo Holzmann, analista chileno de defesa e acadêmico da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de Valparaíso.
Entre suas conquistas, em meados de maio, as forças de segurança detiveram quatro integrantes da quadrilha Los Cochelos, dedicada ao narcotráfico e à lavagem de dinheiro, que operava em San Joaquín, município da Região Metropolitana de Santiago. Com esses detidos, as autoridades já prenderam um total de 22 pessoas ligadas ao grupo, informou a PDI no seu perfil no Twitter.
No dia 21 de abril, unidades da PDI confiscaram mais de 200 quilos de pasta base de cocaína na cidade de Concepción e detiveram três membros de uma quadrilha criminosa, os quais entraram no Chile através da Bolívia. Conforme declarou um agente da PDI à rede de notícias BiobioChile, a droga era transportada em caminhões até a zona centro-sul do país para depois chegar a Concepción.
Em outra ocasião, no dia 23 de março, Carabineiros confiscaram duas toneladas métricas de maconha na região metropolitana de Santiago, uma apreensão considerada “histórica”. Durante a operação, também foram detidas quatro pessoas, três colombianos e um chileno.
As investigações e as operações realizadas desde a decretação do estado de emergência, disse ao jornal La Tercera Álex Cortez, promotor-chefe adjunto da Promotoria Especializada em Antinarcóticos da Região Metropolitana Sul, mostram que a droga “continua circulando e chegando à população”.