Pela primeira vez, militares e civis de 21 nações parceiras das Américas e da África se reuniram para o curso Mudanças Climáticas e Implicações para a Defesa e a Segurança (CCIDS), em Washington, D.C., de 8 a 19 de maio de 2023. O Centro William J. Perry de Estudos Hemisféricos de Defesa organizou o curso.
“É uma honra presidir esse evento histórico. Durante 26 anos, o Centro William J. Perry de Estudos Hemisféricos de Defesa tem buscado fortalecer os laços de cooperação entre os países das Américas e construir uma rede de profissionais que liderem a segurança, a defesa e a tomada de decisões em todo o hemisfério, profissionais que elaborem e implementem soluções compartilhadas para os desafios contemporâneos”, disse, durante seu discurso, Paul J. Angelo, diretor do Centro Perry, aos estudantes internacionais. “A mudança climática global não é um problema futuro […]. A mudança climática já está alimentando inequivocamente a instabilidade e a insegurança em nossa vizinhança compartilhada.”
O curso CCIDS, elaborado pelo Dr. Patrick Paterson, concentrou-se em cinco temas: ciência, ameaças, soluções, o papel das forças de segurança e o impacto humano.
Mais de 40 alunos participaram do curso bilíngue de duas semanas, que contou com 30 palestrantes, incluindo cientistas experientes dos Estados Unidos e da região, que trabalharam diretamente nos Relatórios de Avaliação da Organização das Nações Unidas ou em outras importantes investigações climáticas e ambientais.
Joseph Bryan, assessor climático sênior do secretário de Defesa dos EUA, disse que “[além de] crises humanitárias, a mudança climática pode ser um catalisador para a disputa, entre grupos e até mesmo nações, por recursos escassos, como água, pastagens saudáveis e terras agrícolas […]. E quando a competição se transforma em conflito, às vezes são nossas forças armadas que são chamadas a responder”.
Defesa e segurança em relação às mudanças climáticas

Os participantes puderam ouvir os cientistas climáticos das Américas sobre os desafios meteorológicos e ambientais em quatro sub-regiões do hemisfério: Caribe, América Central, Cordilheira dos Andes e Cone Sul. Eles também participaram de duas visitas às instalações da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) e à Academia Naval dos EUA, ambas em Maryland.
Para a 1º Tenente Dian Geneive Cover, da Força de Defesa da Jamaica, o curso foi um abrir de olhos para as mudanças climáticas. “Eu nunca mais serei a mesma depois desse curso […]. Se nos acomodarmos e não fizermos nada em relação às mudanças climáticas, que legado deixaremos para nossos filhos e os filhos de nossos filhos?”
O Terceiro-Sargento Seon Kyu Han, supervisor do Escritório Meteorológico do Comando das Forças de Operações Especiais do Canadá, disse que o curso foi um “alerta” sobre as mudanças climáticas, despertando seu interesse em aplicar o conhecimento recém-adquirido em benefício de sua organização. “Quero mudar a mim mesmo e incentivar ou criar um ambiente para que meus subordinados e minha comunidade tornem [o tema] mais aceitável, acessível e viável também”, afirmou.
Luis Alonso Amaya Durán, diretor de Proteção Civil, Prevenção e Mitigação de Desastres em El Salvador, destacou a importância dos diferentes temas abordados. “A variedade de tópicos foi muito importante e teve uma perspectiva muito holística. Por exemplo, a mudança climática sob o aspecto governamental, não governamental e empresarial, quanto ao cumprimento de metas estratégicas globais etc.”, disse Amaya.
Ele acrescentou que o curso, que reuniu pessoas e ideias de diferentes organizações, o ajudará a incorporar novos conceitos à proposta atual do Plano Nacional de Redução de Riscos de El Salvador.
Para Raúl Iván Gutiérrez Haaz, diretor da Comissão Nacional de Água do México, o curso do CCIDS é uma voz ativa para a mudança climática.
“Estou entusiasmado com a possibilidade de tornar a mudança climática parte de nossa cultura e, pouco a pouco, começar a implementá-la”, disse Gutiérrez. “O curso cria a responsabilidade de levar a mensagem às pessoas ao nosso redor e aos nossos governos e países, para que nos tornemos parte da equipe que responde às mudanças climáticas.”
Após duas semanas de discussões intensas com cientistas climáticos e autoridades governamentais, o curso foi concluído com observações excepcionais. O Major-Brigadeiro Michael Plehn, da Força Aérea dos EUA, presidente da Universidade de Defesa Nacional, convidou os participantes a trabalharem juntos em prol das mudanças climáticas.
“Juntos, devemos examinar o papel da segurança e da defesa no contexto das mudanças das condições climáticas futuras e seus efeitos sobre a segurança”, disse o Maj Brig Plehn.
Como a mudança climática é uma “ameaça real e existencial” para a região, acrescentou o Maj Brig Plehn, o curso desempenha um papel importante como ferramenta para “examinar, compreender e avaliar as implicações para a segurança do aumento das temperaturas globais e discutir soluções para abordar essas questões em um ambiente acadêmico”.

Em seu discurso de encerramento, a Dra. Hila Levy, diretora adjunta de Segurança Oceânica, Polar e Natural do Escritório de Políticas de Ciência e Tecnologia da Casa Branca, relembrou as ações do governo dos EUA em nível nacional e internacional, para enfrentar as ameaças das mudanças climáticas. Ela pediu aos participantes que atuem como embaixadores ao retornarem a seus respectivos países, para educar e capacitar seus ministérios, forças armadas e cidadãos sobre os impactos abrangentes das mudanças climáticas.
“Vocês estão aqui, vindos das nações do hemisfério ocidental, como guardiões de alguns dos ecossistemas e da vida selvagem mais preciosos da Terra: a Amazônia, os ricos recifes de coral, os Andes, as Antilhas e mais. No entanto, estamos enfrentando um grave desafio que põe em risco o delicado equilíbrio de nossos ecossistemas e ameaça nossa segurança alimentar e sustentabilidade: crimes ambientais, tráfico de vida selvagem, extração ilegal de madeira e pesca ilegal, não declarada e não regulamentada”, disse Levy. “Eu realmente espero que, juntos, possamos fortalecer nossa colaboração e intercâmbio de informações e fortalecermo-nos mutuamente para a segurança coletiva do nosso planeta.”
Devido ao grande interesse e ao número de solicitações de governos da América Latina e do Caribe, o Centro Perry oferecerá um segundo curso em julho.