Caminhar pelos corredores e ouvir os alunos falarem sobre missões de paz, ou visitar as salas de aula onde são ministradas classes de direito humanitário internacional, fazem parte do cotidiano do Centro Conjunto de Operações de Paz do Chile (CECOPAC). Seus estudantes são membros das Forças Armadas do Chile, Carabineiros, Polícia de Investigação e civis, que estão se preparando para serem destacados em missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) e para missões de gerenciamento de crises da União Européia.
Diálogo teve a oportunidade de visitar as instalações do CECOPAC em Santiago do Chile, para conversar com seu diretor, o Coronel Moisés De Pablo López, do Exército do Chile, sobre a missão do centro e suas contribuições para o compromisso do Chile com a paz mundial.
Diálogo: Qual é a missão do CECOPAC?
Coronel Moisés De Pablo López, do Exército do Chile, diretor do Centro Conjunto de Operações de Paz do Chile: A missão do CECOPAC é treinar todo o pessoal militar, civil, de Carabineiros e da Polícia de Investigações do Chile, para cada um dos destacamentos do Chile em operações de manutenção da paz ou de gerenciamento de crises. Também prestamos assessoria ao Ministério da Defesa em operações de manutenção da paz, gerenciamento de crises e estudos para que a autoridade política tome as melhores decisões quanto ao futuro do destacamento.
Diálogo: Qual é a contribuição do CECOPAC para as missões de manutenção da paz da ONU em duas décadas de existência?
Cel De Pablo: Ter o nosso pessoal altamente treinado, qualificado e disponível para os futuros destacamentos do Chile em cada uma das missões das quais participamos; hoje estamos representados no Oriente Médio, na UNTSO [Organização das Nações Unidas para a Supervisão da Trégua]; estamos no Chipre, operando com a Força-Tarefa da Argentina, e estamos na Colômbia, apoiando o cumprimento do acordo de paz; estamos na Bósnia-Herzegovina, em uma missão da União Europeia como o único país da América Latina; e até o momento obtivemos muito bons resultados com nossos contingentes destacados.
Diálogo: O Chile participa de missões de cooperação internacional desde 1935 e, em particular, de operações de manutenção da paz desde 1949. Na sua opinião, quais são as lições mais relevantes aprendidas pelas Forças Armadas do Chile nessa participação?
Cel De Pablo: Acredito que a lição aprendida mais relevante é a interoperabilidade com outras forças, integrando o Sistema Internacional da ONU, quanto ao direito operacional, direito humanitário, incluindo a Resolução 1325 sobre Mulheres, Paz e Segurança, na qual temos sido capazes de integrar em igualdade de condições as mulheres que fazem parte de nossos contingentes nas operações de paz das quais o Chile participa.
Diálogo: O CECOPAC é um centro conjunto interministerial. Como é sua estrutura operacional e interagencial?
Cel De Pablo: Somos um órgão dependente do Ministério da Defesa, criado pelo Decreto Supremo 114 de 15 de julho de 2002, que estabelece que somos conjuntos e integrados; portanto, somos uma estrutura clássica de um centro de capacitação onde se integram tanto as forças armadas, da ordem e da segurança pública e civis; temos professores e alunos estrangeiros convidados, instrutores permanentes da Argentina e do Brasil e, ao longo dos anos, tivemos instrutores da Austrália, Espanha e França, entre outros.
Diálogo: Qual é o maior desafio de treinar o pessoal para participar de missões de paz?
Cel De Pablo: É treinar o pessoal altamente qualificado, proveniente das forças armadas e da polícia, e dar-lhes uma visão holística dos problemas que vão enfrentar nos diferentes ambientes operacionais das missões em que vão ser destacados, bem como treiná-los no cumprimento das tarefas operacionais que desempenharão na área da missão.
Diálogo: Que tipo de currículo acadêmico o CECOPAC desenvolve para treinar o pessoal militar e civil que auxilia nas missões de paz?
Cel De Pablo: O currículo acadêmico está baseado em objetivos e competências. Temos os módulos padrão para cumprir as exigências da ONU e certificar nossas forças destacadas. Temos também um conhecimento bastante profundo da área da missão, pois temos a experiência e as lições aprendidas do último pessoal destacado como instrutores nos cursos prévios ao destacamento. Quanto às competências, levamos concretamente o que aprendemos na prática, ou seja, da sala de aula ao terreno.
Diálogo: Quantos alunos o Centro recebe anualmente e quais são os cursos mais solicitados?
Cel De Pablo: O Centro recebeu 633 estudantes em 2021, mas o CECOPAC teve mais de 19.590 estudantes em seus 20 anos de existência. Os cursos mais solicitados são os de operações de ajuda humanitária, observadores militares, polícia da ONU e pessoal militar da ONU.
Diálogo: Vocês têm cursos online?
Cel De Pablo: Sim, meus antecessores estavam certos ao implementar cursos online e uma plataforma virtual. Ensinamos o curso de Direito Operacional, o curso introdutório sobre operações de Cooperação Internacional e Gerenciamento de Crises; temos 16 cursos disponíveis. Podemos fazê-los em uma fórmula híbrida e isso nos fortaleceu muito, podendo convidar estudantes de outros países, especialmente da América Latina, para participar de nossos cursos, de tal forma que todos conheçamos a problemática da pandemia e eles sejam integrados a nós através da multimídia.
Diálogo: Qual é a projeção internacional do CECOPAC?
Cel De Pablo: Estamos bastante satisfeitos com nossa projeção e ela se consolidou ao longo dos anos com a participação de nossos contingentes. Poderíamos dizer que na região somos um centro de referência latino-americano e também participamos da Associação Latino-Americana de Centros de Treinamento para Operações de Paz (ALCOPAZ), da iniciativa global de paz do Comando Sul [dos EUA] e da Associação Internacional de Centros de Treinamento de Operações de Paz (IAPTC). A integração já está bem consolidada e, o que nos dá crédito, é como somos solicitados para treinar as forças para que possam ser destacadas e isso significa que estamos fazendo as coisas bem e estamos treinando e capacitando bem nosso pessoal.
Diálogo: Que progressos foram feitos na integração de gênero nas missões de paz?
Cel De Pablo: Sem dúvida, é um avanço substancial. Praticamente passamos de homens apenas em operações de manutenção da paz e gerenciamento de crises. Hoje em dia, no Chile, as mulheres estão plenamente integradas às Forças Armadas e à polícia, para que possam participar ativamente em todas as áreas de manutenção da paz e gerenciamento de crises. Tivemos oficiais e graduadas femininas destacadas no Haiti, Colômbia, Iraque, Bósnia, Kosovo, entre outros, participando ativamente em todas as missões relevantes em nosso território.