Os cartéis mexicanos de Sinaloa e Jalisco Nueva Generación estão tornando o Equador uma “zona de guerra”, devido ao controle do tráfico de cocaína a partir da Colômbia, através do território equatoriano, em direção aos Estados Unidos e à Europa, de acordo com a plataforma online americana Vice News.
Membros de gangues locais são enviados a campos de treinamento financiados pelos cartéis no norte do Equador, para aprender a matar, de acordo com traficantes de drogas entrevistados pela Vice. As crianças são recrutadas como assassinas porque, de acordo com o sistema legal equatoriano, elas enfrentam relativamente pouco tempo de prisão se forem pegas.
“A violência alarmante, as taxas de homicídio, as crises carcerárias e o nível de insegurança no Equador decorrem da reconfiguração das rotas do tráfico de cocaína [Europa e Ásia-Pacífico]”, disse à Diálogo Yadira Gálvez, especialista em questões de segurança e acadêmica da Universidade Nacional Autônoma do México, em 12 de maio.
Vice informou que, entre 2020 e 2022, a taxa de homicídios no Equador aumentou 245 por cento. “Se o Equador já foi uma via rápida para a cocaína, agora é uma superestrada”, disse.
“Isso se deve à reconfiguração dos grupos criminosos locais e tradicionais, como Los Choneros e Los Lobos, bem como à fragmentação e à ampla participação dos cartéis mexicanos, sem deixar de mencionar os grupos criminosos albaneses, a fraqueza institucional e a corrupção”, disse Gálvez. “Também podemos apontar […] a exportação da violência pelas organizações mexicanas, exacerbada entre grupos criminosos pelo controle de territórios ao longo das rotas do narcotráfico.”
Os cartéis mexicanos agora tomam as decisões, financiando a produção de cocaína dos grupos guerrilheiros colombianos, acrescentou Vice. Enquanto isso, as gangues equatorianas travam uma guerra de poder em nome dos cartéis mexicanos, transformando o país nos “novos campos de extermínio” da América Latina.
A onda de violência sem precedentes gerada no território andino está afetando a vida cotidiana dos equatorianos e levando a um êxodo em massa de pessoas que fogem para o norte do continente, informou o jornal mexicano Reforma, em 12 de março.
Expansão e adaptação
A violência é registrada principalmente em Guayaquil e Esmeraldas. “Todo mundo sabe quem opera aqui. Isso fica evidente pela quantidade de drogas que estamos encontrando nos portos”, disse à Vice o Major Fernando Estévez, da Polícia Nacional, que supervisiona as inspeções de drogas no porto de Guayaquil.

Cerca de 14.000 contêineres passam pelo porto de Guayaquil todos os meses. A tarefa de inspecionar os contêineres cabe aos funcionários e a 39 pastores belgas farejadores de drogas doados pelo governo dos EUA. Os cães podem inspecionar de forma confiável apenas três contêineres por dia, disse o Maj Estévez.
Enquanto isso, os cartéis mexicanos continuam a inovar, tornando-se cada vez melhores em esconder a cocaína. Um químico de alto nível do Cartel de Sinaloa disse à Vice que o cartel usa ímãs industriais para prender caixas de cocaína no fundo dos contêineres.
Ele ressaltou que as rivalidades entre os cartéis surgiram após o assassinato, em dezembro de 2020, de um chefão equatoriano conhecido como Rasquiña, líder de Los Choneros, que controlava as rotas de drogas do país. Desde então, a luta entre as gangues não parou.
“Estamos lidando com redes transnacionais, transregionais e organizações que se adaptam muito rapidamente às condições em que vivemos”, disse Gálvez. De acordo com o jornal equatoriano Primicias, entre 2019 e março de 2023, as autoridades equatorianas apreenderam 673 toneladas de drogas.
“Os cartéis mexicanos estão se expandindo não apenas para o norte, mas também para o sul da fronteira e praticamente em todo o mundo”, disse à Vice Derek Maltz, ex-chefe da Divisão de Operações Especiais da Administração para o Controle de Drogas dos EUA (DEA). “Eles estão se movendo […] para construir sua empresa global.”
Estratégia acompanhada
Para conter essa ameaça, a cidade de Guayaquil está sob estado de emergência desde 1º de abril, um mecanismo que permite destacar militares nas ruas e impor toques de recolher. As províncias costeiras de Santa Elena, Esmeraldas e Los Rios também estão sob estado de emergência, informou a agência de notícias AFP em 1º de maio.
“Os estados de emergência são prorrogados se não forem acompanhados de outros tipos de medidas que ajudem a fortalecer as instituições”, afirmou Gálvez. “Neste momento, isso se justifica se considerarmos o nível de violência e as capacidades que essas organizações criminosas têm.”
“O Equador precisa de uma estratégia acompanhada de muita cooperação internacional, que inclua o trabalho conjunto com o Peru, a Colômbia, a América Central, os Estados Unidos e o lado europeu, para atacar gradualmente o problema dessas organizações”, acrescentou Gálvez. “Nesse contexto, os Estados Unidos reconhecem a importância da cooperação.”
Em 2022, Washington e Quito assinaram a Lei de Parceria Estados Unidos-Equador, que tem a ver com o apoio ao desenvolvimento econômico e social do país, com ênfase no orçamento para o item “Narcóticos e Aplicação Internacional da Lei”.
“O que casos como o do México e da Colômbia nos dizem é que podemos prever as ações dessas organizações criminosas. Se não for aplicada uma estratégia abrangente que gradualmente coopte as diferentes áreas dessas organizações, como a esfera financeira, o que veremos é que, infelizmente, os níveis de violência no Equador continuarão”, concluiu Gálvez.