Em meados de setembro, a Polícia Federal (PF) do Brasil deflagrou a Operação Rookies, para desarticular uma organização criminosa que realizava tráfico transnacional de drogas e lavagem de dinheiro. “A Justiça determinou o bloqueio de 130 contas bancárias de 30 pessoas sob investigação”, informou a PF.
De acordo com a investigação, os membros da organização criminosa teriam movimentado cerca de R$ 220 milhões (quase US$ 42 milhões) entre 2017 e 2021 a partir de contas bancárias de ‘laranjas’. “A organização criminosa foi desmantelada com a prisão de 10 pessoas”, disse à Diálogo a Assessoria de Comunicação Social da PF em Passo Fundo, Rio Grande do Sul.
Efetivos da PF cumpriram dezenas de mandados de busca e apreensão, de prisão preventiva e de prisão temporária, em 12 cidades nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Um dos alvos da Operação Rookies foi um homem que já estava preso por roubo no Presídio Regional de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. “Com o suspeito, foram apreendidos quatro aparelhos de telefone celular e anotações”, informou o site brasileiro GZH.
Aliciamento de jovens
A investigação teve início quando os agentes suspeitaram que um homem, que cumpre pena por tráfico de drogas, estaria agenciando remessas de drogas para a Europa a partir de sua cela prisional. “O investigado contava com o apoio de outros detentos e de pessoas em liberdade, que atuariam arregimentando jovens sem antecedentes criminais para o transporte de drogas para a Europa, mediante pagamento”, afirma a PF.
Em novembro de 2019, por exemplo, um homem residente em Passo Fundo foi preso no aeroporto de Zurique, na Suíça, quando desembarcava de um voo proveniente do Brasil, transportando 4 quilos de cocaína de forma oculta em sua bagagem.

No mesmo mês, uma mulher de Passo Fundo e um homem de Santa Catarina que a acompanhava foram presos em Copenhagen, na Dinamarca, quando desembarcavam de uma viagem proveniente do Brasil. Eles também levavam drogas ocultas em suas malas.
“A investigação apura ainda outros casos de remessas de drogas que resultaram em prisão na Europa”, informou o jornal brasileiro Correio do Povo.
A operação destaca o uso contínuo de transportadores humanos para levar drogas por avião, uma estratégia que tem décadas de existência e que coloca centenas de pessoas na cadeia. Segundo a InSight Crime, uma organização que estuda o crime organizado na América Latina e no Caribe, o uso de mensageiros ou ‘mulas de drogas’ é generalizado na América Latina, com homens e mulheres recrutados em grande número. Alguns ingerem narcóticos antes de embarcar em um voo, amarram pacotes de drogas em seu corpo, ou escondem drogas dentro de malas, entre outros.
Em seu relatório Cocaine Insights 3, de março de 2022, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) enfatiza que o papel de uma mula de drogas é uma das posições mais baixas na cadeia de fornecimento de drogas, pois representa múltiplos riscos para os envolvidos.
As mulheres perfazem quase a metade das mulas de drogas detidas todos os anos nos aeroportos internacionais brasileiros, de acordo com dados policiais para o período de 2017 a 2020, indica o relatório do UNODC.
Distribuição regional de drogas
Segundo a PF, o grupo criminoso também atuava na distribuição de drogas em Passo Fundo e na região. Recebia maconha e cocaína de Curitiba, Paraná, bem como drogas sintéticas do litoral de Santa Catarina. Depois as repassava a traficantes locais, responsáveis pelo comércio varejista de narcóticos.
Os mandados de busca foram cumpridos em cidades como Marau e Caxias do Sul (Rio Grande do Sul), Itapema e Itajaí (Santa Catarina), Curitiba e Cascavel (Paraná), Valinhos e Vinhedo (São Paulo). Segundo a PF, os investigados responderão pelos crimes de tráfico internacional de drogas, organização criminosa e lavagem de dinheiro.