O Acre, um dos estados brasileiros localizados na região amazônica, conta com um Grupo Especial de Fronteira (GEFRON) desde setembro de 2019. Vizinho da Bolívia e do Peru, o estado luta para combater o tráfico de drogas e armas por meio de sua extensa região de fronteira. O coordenador do GEFRON, o Coronel Antônio Teles de Almeida, da Polícia Militar do Acre, conversou com Diálogo sobre o trabalho de suas equipes e os principais resultados das operações.
Diálogo: O GEFRON registrou um aumento de 38 por cento nas apreensões nas fronteiras do Acre com Bolívia e Peru, em comparação ao primeiro trimestre de 2020. Quais são os fatores implicados nesse aumento de apreensão?
Coronel Antônio Teles de Almeida, da Polícia Militar do Acre, coordenador do GEFRON: O GEFRON foi criado em setembro de 2019. Em dezembro de 2020, eu assumi o comando e passei a integrar as operações no terreno junto com as equipes, além de contar com o trabalho de inteligência de informações do núcleo de inteligência da Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública do Acre. Esses resultados do primeiro trimestre de 2021 são frutos do aumento de abordagens e operações, frutos de serviços de inteligência. A nossa presença na fronteira foi ampliada e isso tem trazido melhores resultados.
Diálogo: Qual a estimativa que se faz, em termos de valores, do impacto das apreensões realizadas pelo GEFRON?
Cel Teles: Desde o início das atividades, em setembro de 2019, até março de 2021, já apreendemos o equivalente a R$ 13,5 milhões [mais de US$ 2,5 milhões]. Isso se refere ao cálculo do valor das apreensões de armas, veículos, drogas, embarcações e mercadorias contrabandeadas. E, após esse primeiro trimestre de 2021, no mês de abril, a gente já teve 250 quilos de cocaína apreendidos.
Diálogo: Quais são os principais itens apreendidos nessa região?
Cel Teles: A fronteira do Acre é, em grande parte, uma fronteira seca. O crime organizado furta muita caminhonete na região, principalmente na zona rural próxima à fronteira. Essas caminhonetes servem como moeda de troca para a compra de cocaína e armas. Com isso, a gente termina apreendendo muitos veículos como esses. Mas, o que mais apreendemos é droga e materiais que servem de matéria-prima para a cocaína, como cloridrato. Em resumo, os principais itens são veículos, cocaína, cigarro e armas.
Diálogo: O que levou à criação do GEFRON?
Cel Teles: O Acre está na rota do tráfico de drogas. Fazemos fronteira com a Bolívia e o Peru. Cruzeiro do Sul [município do Acre] está no coração dessa situação porque faz divisa com a cidade de Pucallpa, no Peru. No vale do Pucallpa estão as maiores plantações de coca daquele país. Então, essa droga entra pelos rios e segue em direção a Rio Branco [capital do estado do Acre]. Além disso, tem a droga que vem da Colômbia, que entra no Brasil pela bacia hidrográfica do rio Amazonas. Diante disso, o governador atual resolveu criar o GEFRON como parte de uma estratégia de policiamento diferenciado com o objetivo focado em patrulhamentos, porque a fronteira estava desguarnecida.
Diálogo: A fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru é extensa e se localiza em meio à selva amazônica. Quais são os desafios de atuação numa zona fronteiriça com essas características?
Cel Teles: Acho que um dos grandes desafios é a comunicação eficiente, porque, quando a gente se afasta da cidade, perde-se a conexão com a internet. Muitas vezes, estamos em operação e não temos acesso aos nossos bancos de dados para poder consultar se aquele veículo ou aquela pessoa que está sendo abordada é alguém que tem, por exemplo, um mandado de prisão.
Diálogo: Diante disso, de que forma o GEFRON atua? Quais suas principais atividades?
Cel Teles: As nossas ações são com barreiras fixas e dinâmicas, abordagens e operações específicas, inclusive operações integradas com o Exército Brasileiro. Operamos também com a Polícia Rodoviária Federal, com a Polícia Federal e com a Polícia Civil. O GEFRON se integra com outros órgãos para exercer a sua função de policiamento de fronteira com foco nos crimes transfronteiriços.
Além das barreiras, fazemos patrulhamento com quadriciclos, onde as caminhonetes convencionais não conseguem entrar, principalmente nesse período de chuva na região amazônica, e atuamos com motocicleta e policiamento fluvial, fazendo patrulha com embarcações. Atendemos, ainda, diretamente ao secretário de segurança pública, que nos desloca quando há necessidade de prestar apoio a batalhões de polícia.
Diálogo: Quem são os profissionais que compõem o GEFRON e quantos fazem atualmente parte do grupo?
Cel Teles: O GEFRON é composto pelos melhores policiais da Polícia Militar, da Polícia Civil, dos Bombeiros Militares do Acre e dos policiais penais. Atualmente, somos 34 profissionais, mas estamos em um momento de expansão. Em junho, teremos um curso de capacitação, que será sediado aqui no estado, para admissão de novos membros para o grupo.
Além disso, está sendo criada uma base a 25 quilômetros de Rio Branco, onde ficarão nossas viaturas, alojamentos e reservas de armas, ou seja, uma espécie de quartel do GEFRON. No dia 28 de abril, houve a assinatura de um convênio com a prefeitura de Epitaciolândia [fronteira com a Bolívia], para a construção de uma base do GEFRON nessa cidade, e outra base também está prevista para ser construída na cidade de Cruzeiro do Sul. Nesses locais, estarão distribuídos os equipamentos necessários para a realização das nossas operações.