Belize, localizada na costa nordeste da América Central, quer estabelecer parceria com seus vizinhos regionais para derrotar um inimigo comum: o crime organizado transnacional. Com apenas 290 km de extensão e 110 km de largura, Belize se depara com algumas das mesmas ameaças de segurança que o México e a Guatemala, com os quais compartilha fronteiras a oeste e ao norte. O Major Jermaine Nolan Burns, comandante da Força de Defesa Aérea e da Unidade de Embarcações Especiais de Belize, acredita que a parceria com os Estados Unidos e os países da América Central é fundamental em sua luta contra o crime organizado transnacional.
O Maj Burns se alistou como candidato a oficial da Força de Defesa de Belize em junho de 2000. Desde então, foi sendo promovido gradativamente, sempre tendo como meta encontrar novas maneiras de combater o crime. Conforme falou à Diálogo durante a Conferência de Comandantes de Forças Aéreas da América Central, realizada de 12 a 13 de dezembro de 2016, em Tucson, Arizona, compartilhar informações e inteligência são técnicas fundamentais que os países podem alavancar para combater as ameaças à sua segurança.
Diálogo: Qual é a importância da presença de Belize na Conferência de Comandantes de Forças Aéreas da América Central? Major Jermaine Nolan Burns: A importância de estar aqui com todos os outros Comandantes de forças aéreas da América Central é podermos compartilhar informações sobre como desenvolver novas táticas para combater o crime organizado transnacional de uma perspectiva aeronáutica. É muito importante para nós compartilhar informações porque, se não colaborarmos e, ao invés disso, tentarmos combater essa situação de forma individual, isso definitivamente nos levará ao fracasso.
Atualmente, as redes criminosas dependem de seus parceiros dos diferentes países em que operam para que possam ter sucesso; consequentemente, essa é a mesma abordagem que os militares têm de adotar para que possamos combater esses crimes. Estar com os chefes das forças aéreas da América Central nos ajuda a analisar onde estão as lacunas e decidir como podemos proceder para eliminá-las, discutindo onde está o problema e como cada um o está combatendo em seus respectivos países.
Tentamos modelar nossas táticas a partir do que cada um de nós faz, essencialmente através da avaliação de nossos sucessos. Diálogo: O que Belize deseja obter ao participar deste evento anual? Maj Burns: Belize como país e, mais ainda, a Força de Defesa de Belize, está procurando estreitar relações com o país anfitrião, os Estados Unidos, para ampliar o desenvolvimento, a cooperação e o financiamento na área militar. Estamos também analisando a forma pela qual os outros elementos aéreos dos países da América Central conduzem seus negócios, porque ainda somos principiantes no campo da aviação.
A maioria desses países é muito mais madura do que nós neste setor. Nosso país é muito novo e nossa participação aqui nos ajuda a analisar as formas pelas quais nossos países vizinhos encaram suas questões para que possam ser bem-sucedidos. Se for um bom modelo para eles, talvez seja um bom modelo para que nossas forças de defesa ou nossos recursos de aeronáutica possam também ser bem-sucedidos. Diálogo: No que tange à segurança, quais são suas maiores preocupações? Maj Burns: Em termos de segurança, sofremos alguns tipos de agressões internas e externas.
Internamente, assim como El Salvador, Guatemala e Honduras, sofremos principalmente com as gangues de jovens. Nesta conferência, pude entrar em contato com a Guarda Aérea Nacional da Louisiana e a Força-Tarefa Conjunta Interagências Sul para conversar em relação a diferentes tópicos de nossa parceria para o programa de reformatórios. Com essa parceria, retiramos jovens das ruas que estão em perigo para colocá-los num programa educacional.
A meta final é devolvê-los à sociedade, esperando que não entrem para gangues e outras atividades ilícitas. Em termos de agressão externa, sofremos com o mesmo crime organizado transnacional que está assolando todos os países da América Central. Belize está sendo usada como ponto de trânsito de drogas. Aviões estão pousando em pistas clandestinas no país.
O tráfico humano é um problema e muitas drogas estão passando pelo país, tentando atravessar o corredor para a área mexicana e daí para os Estados Unidos. Belize, como a Guatemala, que é nossa vizinha a oeste, só é usada como rota para o tráfico. Essa é uma preocupação de segurança porque afeta nossa população civil que está envolvida com esses tipos de crimes. Diálogo: Por que a colaboração, parcerias e intercâmbios entre nações parceiras, inclusive os Estados Unidos, são tão importantes para se estabelecerem medidas comuns no combate ao crime organizado transnacional? Maj Burns: O nível de parceria que temos com os Estados Unidos é através do nosso Centro Conjunto de Inteligência e Operação.
O centro é o foco principal de inteligência e operações para as agências executoras da lei, inclusive a Força de Defesa de Belize, a Guarda Costeira, o Departamento de Polícia e as unidades de Alfândega e Imigração. Todo o setor de execução de leis está concentrado em um edifício e temos um sistema de cooperação de intercâmbio de informações com outras nações, onde nosso serviço de radar é compartilhado para rastrear aeronaves ilegais que voam em nossa região. Contamos também com um sistema de comunicação com o qual podemos conversar e colaborar com todos os países latino-americanos e seus signatários deste programa.
Temos a capacidade de trocar informações de inteligência para podermos combater o crime organizado que atravessa nossos países. Por exemplo, a Colômbia pode contatar-nos instantaneamente através do nosso centro de operações para nos informar que há uma aeronave que saiu do seu país, a qual eles suspeitam ser ilegal; então podemos coordenar ações posteriores. Essas parcerias são muito importantes e é fundamental que mantenhamos esses programas com o compartilhamento de informações. Diálogo: Atualmente, Belize atua como observador do Sistema de Cooperação das Forçdas Aéreas das Américas (SICOFAA).
Que benefícios esta função traz ao país? Maj Burns: Isso está ligado ao compartilhamento de informações. Embora estejamos apenas no banco do observador, isso nos ajuda, primeiramente, a ver o que outros países latino-americanos estão fazendo.
Avaliamos seus sucessos e vemos se são aplicáveis a um país como Belize. É importante também para analisar onde Belize pode aproveitar o compartilhamento de informações com esses países e desenvolver o relacionamento entre as diferentes agências de segurança da região.