Defender os céus equatorianos não é sua única função. Para o Brigadeiro Patricio Mora Escobar, comandante geral da Força Aérea Equatoriana (FAE), manter o domínio sobre o espaço aéreo e conduzir operações aéreas para a defesa da soberania e integridade de seu país é uma tarefa primordial. Essa se soma a uma reconhecida tarefa de ajuda humanitária e de assistência em casos de desastres naturais, como o terremoto ocorrido em 16 de abril de 2016.
O planejamento estratégico, a modernização institucional e a cooperação internacional são prioridades que mantêm o Brig Mora comprometido com a organização sob seu comando. O Brig Mora conversou com a Diálogo durante a Conferência de Chefes das Forças Aéreas Sul-Americanas, realizada na Base Aérea Davis-Monthan, em Tucson, Arizona, entre 31 de outubro e 3 de novembro de 2017. O tema principal da conferência foi o papel das forças aéreas na assistência aos desastres naturais.
Diálogo: Por que é importante para a FAE participar da conferência?
Brigadeiro Patricio Mora Escobar, comandante geral da Força Aérea Equatoriana: A importância de nossa participação fica patente com a experiência vivida após o terremoto de 16 de abril de 2016. O Equador faz parte do Sistema de Cooperação das
Forças Aéreas Americanas (SICOFAA) e, logo depois de ocorrido o terremoto, uma de nossas alternativas foi solicitar ajuda a esse organismo e a resposta foi imediata. Por isso, era importante vir para cá e poder apresentar, nesta reunião, nossa experiência. Neste evento específico, podemos analisar como melhorar as coordenações para atuar em casos de desastres.
Diálogo: Qual é sua avaliação sobre a participação das forças aéreas da América do Sul na conferência?
Brig Mora: Estamos muito motivados porque finalmente tudo o que fizermos aqui terá resultados para uma coordenação eficiente e oportuna caso nossos concidadãos necessitem. A participação de todos aqui é importantíssima. Ao final, poderemos dar as recomendações que forem necessárias para melhorar nossa integração na assistência a desastres.
Diálogo: Com relação ao trabalho das forças aéreas na assistência a desastres naturais, como se coordenou a cooperação regional para responder ao terremoto de 2016 no Equador?
Brig Mora: O trabalho foi extraordinário, eficiente e, principalmente, oportuno. Quando tivemos o terremoto, as forças aéreas chegaram de imediato; uma coisa é falar do tema e outra é vivenciá-lo. Participei como conexão da parte política com a militar na coordenação de todas as tarefas que se desenvolveram durante o desastre. Como parte das tarefas, também realizei viagens nos aviões das forças aéreas parceiras que nos auxiliaram e pude constatar seu sentimento de solidariedade. Sentia-se que todos os homens e mulheres das forças aéreas que nos apoiaram o faziam com muito carinho e grande esforço e também sem nenhum descanso. Creio que esse sentimento ficou impregnado nos corações dos equatorianos.
Diálogo: Por que é importante falar da relação entre as forças aéreas e a participação conjunta na assistência a desastres naturais? Esse é um tema novo?
Brig Mora: No Equador o tema era novo, de alguma forma, porque não havíamos tido desastres naturais de grande magnitude. Contudo, as forças armadas em geral sempre coordenaram com a parte civil a assistência a desastres. Em meu país, não estávamos preparados para enfrentar um terremoto. Estávamos nos preparando para erupções vulcânicas, para incêndios, mas não para terremotos. Isso nos fez refletir e agir. Agora, temos planos para atender emergências em caso de terremotos. Melhoramos nossa organização e nossa estrutura e, por esse motivo, aprendemos que é importante realizar coordenações e por isso estou nesta conferência.
Diálogo: Em sua palestra sobre a FAE, o senhor falou do SICOFAA como uma ferramenta vital para os países da região. O senhor poderia se aprofundar sobre o tema?
Brig Mora: O SICOFAA é vital; essa organização tem muitos anos desde sua criação. Normalmente, temos uma reunião anual na qual conversamos e discutimos entre países sobre como podemos melhorar a colaboração e ajuda entre nossas forças aéreas. Isso nos permite que, no momento em que ocorrer um desastre, possamos contar com todos os mecanismos para poder fornecer o apoio humanitário determinado nesses casos. A estrutura do SICOFAA permite que, caso se necessite de ajuda, ela seja rápida e eficiente.
Diálogo: Neste final de 2017, qual é o balanço da FAE em termos de ajuda humanitária?
Brig Mora: Pudemos cumprir nossa missão. Junto com os outros ramos das Forças Armadas do Equador, estamos apoiando e fornecendo ajuda humanitária. A Força Aérea integra permanentemente as cidades mais vulneráveis e mais distantes em nossas regiões do país, como é o caso da região amazônica. Temos programas como o Asas para a Alegria, que permite que as crianças de poucos recursos voem em nossas aeronaves de transporte. Com esse programa, proporcionamos um momento de alegria e de entretenimento. Temos também o programa Asas para a Saúde, no qual nossas aeronaves chegam aos centros habitados mais distantes, levando brigadas médicas e suprimentos.
Diálogo: Quais são as principais ameaças à segurança do Equador e como a Força Aérea contribui para combatê-las?
Brig Mora: Os problemas de segurança que realmente temos são as novas ameaças, como o narcotráfico, e a forma de apoiar é mantendo um bom sistema de controle do espaço aéreo, tanto com nossos sistemas de radares quanto com nossos aviões. Isso é o mais importante que proporcionamos para a segurança de nosso país, já que realmente o Equador é um país de paz, e creio que estamos em um bom momento.
Diálogo: Que trabalho conjunto a FAE realiza com as outras forças aéreas da região?
Brig Mora: Estamos integrados a exercícios que são realizados tanto na parte militar como na parte de desastres, que ultimamente têm tido muita relevância e importância. Sempre tratamos de estar integrados e coordenados. Temos convênios nas áreas de logística para o apoio a nossas aeronaves. Temos intercâmbios, por exemplo, com as forças aéreas do Brasil, da Colômbia, do Chile e do Peru.
Diálogo: Qual é a importância da cooperação das forças aéreas na assistência a desastres naturais?
Brig Mora: Os países organizam esse tipo de eventos para poderem dialogar sobre como podemos melhorar o emprego de nossas forças em apoio aos cidadãos. Não é só a solidariedade que as forças aéreas poderiam compartilhar entre si, mas essas reuniões ou conferências nos permitem conhecer as experiências das outras forças aéreas e registrar suas experiências e lições aprendidas, que serão fundamentais no momento de agir.