O ministro da Defesa da Argentina, Jorge Taiana, e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, assinaram uma carta de intenções para incorporar 156 veículos de combate blindados Guaraní 6×6 ao Exército Argentino, para permitir que ambas as nações adotem uma ferramenta eficaz para a ação militar combinada e contribuam para a estabilidade na região.
“A tendência mundial nesta área são os veículos blindados com pneus”, disse à Diálogo o Coronel José Colombo, do Exército Argentino, chefe do Departamento de Comunicação Institucional e Imprensa, do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, em 23 de fevereiro. “Isto é o que precisamos, de acordo com a estratégia defensiva multicamadas ou de desgaste nas maiores distâncias, projetada no planejamento estratégico militar de médio prazo.”
Segundo o Ministério da Defesa da Argentina, o contrato é entre seu Exército e a empresa fabricante do veículo brasileiro. A produção do veículo inclui peças que são fabricadas na Argentina, mais precisamente na fábrica IVECO, localizada na província de Córdoba.
“Além disso, a carta de intenções assinada incluiu a transferência de tecnologia para o aumento progressivo da fabricação de peças em nosso país, o apoio logístico e o treinamento de tripulações e pessoal técnico do Exército”, disse o Cel Colombo. “[Isto] constitui um verdadeiro incentivo para nossa indústria de defesa.”
Das 156 unidades que a Argentina necessita, há 120 veículos de transporte de pessoal com torre de metralhadora, 27 veículos de combate de infantaria com torre de canhão e nove veículos de Posto de Comando.
“Há uma relevância do ponto de vista comercial, que dá ao Exército uma capacidade que ele não tem e, em parte, há uma modernização do seu material blindado rolante”, explicou à Diálogo Juan Battaleme, analista em temas de defesa e professor de Relações Internacionais da Universidade de Buenos Aires, Argentina. “Estaríamos testemunhando a possibilidade de uma produção local para satisfazer as necessidades de nossas Forças Armadas.”
O Guarani 6×6 é um veículo blindado anfíbio, com pneus, de transporte de tropas, que conta com diferentes níveis de equipamento, como artilharia e apoio logístico. Está equipado com um moderno sistema operacional de comunicações e visão noturna.
Devido às suas características, “tem a missão de constituir a primeira resposta militar a uma crise, que poderia fornecer aos dois Estados uma ferramenta eficaz para uma ação militar combinada e contribuir para a estabilidade na região”, especificou o Ministério da Defesa da Argentina. Atualmente, o Exército Brasileiro conta com aproximadamente 500 unidades operacionais.
Para Battaleme, a importância está “na decisão política de fortalecer os laços com o Brasil em todos os aspectos possíveis, e uma das questões é a da segurança regional e bilateral, que é onde existe o maior consenso entre ambos os países”.
Desde 2020, o Exército Argentino vem realizando estudos minuciosos do veículo, sendo considerado o mais adequado para suas necessidades, dado seu potencial, sua proximidade com o Brasil e a possibilidade de ser fabricado no país.
“Esta assinatura representa um marco na integração das respectivas indústrias e reforça as ações que visam fortalecer a agenda de integração, cooperação e confiança mútua entre os dois países”, ressaltou o Cel Colombo.
Em meados de 2021, foi feito um teste na Argentina com o Guarani, cedido pelo 5º Regimento de Cavalaria Mecanizado do Exército Brasileiro, e foi apresentado durante uma exposição na Diretoria de Arsenais do Exército Argentino, informou o portal espanhol Infodefensa.
O veículo blindado foi submetido a testes técnicos e operacionais de armamento e de suas capacidades para ser aerotransportado para ser destacado em operações militares nas aeronaves Hércules C-130 que possui a Força Aérea Argentina.
O Cel Colombo declarou que a aquisição do veículo “proporcionará uma melhoria na interoperabilidade entre os exércitos dos dois países, uma vez que se operará com o mesmo veículo em ambos os lados da fronteira”.
As forças armadas da Argentina e do Brasil têm um vínculo histórico de cooperação, incluindo intercâmbios de oficiais e graduados em institutos de treinamento, exercícios combinados e participação em operações de manutenção da paz, sob os auspícios da Organização das Nações Unidas.
“Nossa integração com o Brasil em assuntos de Defesa não é algo novo, mas já constitui uma tradição”, concluiu o Cel Colombo.