De acordo com o Instituto Nicaraguense de Turismo, mais de 5.000 cubanos chegaram à Nicarágua nos primeiros cinco meses de 2019, o que representa um aumento de quase 900 por cento em relação aos 566 que chegaram em 2018. Longe de ter como objetivo a visita às atrações turísticas do país, a maioria dos cubanos pratica atividades obscuras em apoio à permanência no poder do presidente Daniel Ortega e de sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo.
No dia 30 de maio, o jornal nicaraguense La Prensa relatou que 200 assessores da Direção de Segurança de Cuba operam de forma regular com as Forças Armadas da Nicarágua e oferecem treinamento a funcionários da polícia e da direção geral de Aduanas e Sistema Penitenciário. Alguns desses assessores chegaram ao país em 2007, mas esse número aumentou exponencialmente após a rebelião de abril de 2018, que deixou centenas de manifestantes mortos, desaparecidos e presos, bem como milhares de nicaraguenses no exílio.
“Os estrategistas cubanos são capazes de neutralizar a dissidência interna do país da maneira mais brutal e manter a ditadura do duo Ortega-Murillo”, disse à Diálogo Jorge Serrano, professor do Centro de Altos Estudos Nacionais do Peru. “Cuba envia assessores políticos e militares de inteligência e contrainteligência às bases militares e às principais instâncias do poder político e econômico da Nicarágua.”
Os militares enviados chegam ao país em voos comerciais, entre os migrantes cubanos que buscam escapar da ilha rumo aos Estados Unidos, declarou Aníbal Toruño, diretor da emissora nicaraguense Radio Darío, ao jornal panamenho Panam. “Essa é uma forma velada de enviar agentes de inteligência e assessores aliados ao serviço de Ortega, em um momento em que cresce o temor quanto à permanência do sandinismo no poder”, acrescentou.
Ainda que para o regime cubano a joia da coroa seja a Venezuela como provedora de recursos, a Nicarágua possui uma excelente localização geoestratégica no continente para os interesses do eixo formado pela China, Coreia do Norte, Cuba, Irã, Nicarágua, Rússia e Venezuela, disse Serrano. “O país caribenho é a cabeça estratégica de um ‘plano continental-internacional’ que busca defender até às últimas consequências a permanência das forças de esquerda na América Latina”, garantiu.
Serrano ressaltou que aqueles que comandam e operam a estratégia de assessoramento político de repressão radical, violenta, sistemática, mas também seletiva, em território nicaraguense são o líder socialista Raúl Castro e Julio César Gandarilla, ministro do Interior de Cuba. Além disso, acrescentou que a manobra é a mesma utilizada pelos líderes políticos, instituições militares e de inteligência cubanas para a manutenção interna da ditadura de Nicolás Maduro. “Esses estrategistas não assessoram à distância, eles assessoram no terreno.”
Durante o fórum realizado pela Comissão de Justiça Cuba, em São José, Costa Rica, no dia 29 de maio, exilados nicaraguenses denunciaram o aumento do número de militares cubanos em operações repressivas do regime de Ortega. No fórum, o ex-militar nicaraguense Carlos Zamorán denunciou perante a comissão que desde 1980 já se via a presença de cubanos nas forças militares do seu país. “Os militares eram supostamente assessores, mas estavam preparados para torturar e assassinar os trabalhadores rurais.”
“O comportamento de Cuba no hemisfério ocidental enfraquece a segurança e a estabilidade dos países da região”, disse à imprensa o secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo. “O regime cubano exporta há anos suas táticas de intimidação, repressão e violência.”
O Congresso da Nicarágua autorizou no dia 13 de novembro de 2018 a entrada de embarcações, aeronaves e pessoal militar de Cuba, Rússia e Venezuela, a partir do segundo semestre de 2019, com o objetivo de realizar adestramento e intercâmbio de experiências. O Exército da Nicarágua também poderá enviar militares às nações que enviarão seus oficiais com os mesmos objetivos. A cada seis meses o Estado nicaraguense renova a entrada de tropas estrangeiras e equipes militares no país.
“Esse apoio que a Nicarágua recebe de Cuba, Venezuela e Rússia enfraquece em grande escala os esforços internacionais para exercer pressão sobre o regime de Ortega”, segundo o relatório de dezembro de 2018 Lições da Venezuela para a Nicarágua, emitido pelo Centro de Estudos Estratégicos Internacionais, com sede nos Estados Unidos. “Ainda que os assessores cubanos participem abertamente sob a bandeira do turismo ou de forma obscura na Nicarágua, a comunidade internacional deve empreender mais esforços para enfrentar e frear as ações ditatoriais do regime Ortega-Murillo”, finalizou Serrano.